Tendência de calouros a engordar pode estar ligada a variações do sono

  • The New York Times
Tendência de calouros a engordar pode estar ligada a variações do sono

À medida que o primeiro semestre escolar chega à metade, vários calouros começam a perceber que suas roupas estão ficando um pouco justas.

O chamado calouro 15 (expressão para dizer que os estudantes engordam no primeiro ano da faculdade, nota da tradução) pode ser uma hipérbole, mas estudos confirmam que muitos alunos ganham de dois a quatro quilos e meio durante o primeiro ano longe de casa. Agora, novas pesquisas dizem que a causa principal para esse ganho de peso pode ser o fato de que seus padrões de sono oscilam muito.

Um estudo do jornal Behavioral Sleep Medicine examinou os hábitos de sono de calouros no primeiro semestre da faculdade. Os pesquisadores seguiram 132 primeiranistas da Universidade Brown que mantiveram diários de hábitos de sono. Depois de nove semanas, mais da metade ganhou quase três quilos.

Cada vez mais pesquisas indicam que existem muitos hábitos ruins que podem ter influenciado o ganho de peso.

Foi a falta de sono? De preferência, dizem os especialistas, os adolescentes precisam de cerca de nove horas e 15 minutos de sono por noite. Esses calouros, em média, dormiam sete horas e 15 minutos. Em um estudo feito no começo deste ano e publicado no jornal PLOS One, os pesquisadores descobriram que quando os adolescentes não dormem a quantidade de horas necessária, tendem a avançar mais em doces e sobremesas.

Ou foi o hábito dos alunos da Brown de ir para a cama tarde que levou ao aumento de peso? Em média, eles dormiram à 1h30 da manhã. Um estudo publicado este mês no jornal Sleep que avaliou adolescentes até a idade adulta descobriu que cada hora mais tarde que os alunos dormiam durante o período de aulas ou de trabalho estava associada a cerca de dois pontos a mais no índice de massa corporal.

Apesar de tanto a quantidade de sono quanto a hora de dormir terem um papel, os pesquisadores do estudo da Brown identificaram um novo fator de sono que pode prever o ganho de peso: a variação, ou o quanto a hora de dormir e o tempo acordado mudavam diariamente.

Ao contrário de trabalhadores, que tipicamente acordam na mesma hora pelo menos cinco vezes por semana, os estudantes cujos horários de aula mudam todos os dias podem dormir mais em uma manhã e acordar cedo na outra. Seduções não acadêmicas, às quais os calouros podem ser particularmente propensos, também são capazes de causar estragos em uma boa noite de sono.

O impacto foi maior nos garotos, cujo horário de dormir e o tempo acordados mudava diariamente uma média de duas horas e 37 minutos. Era como se eles precisassem se ajustar a um jetleg todos os dias.

À medida que reajustam o relógio corporal, ficam propensos a acumular quilos. Como o que acontece com pessoas que trabalham em turnos e as que viajam muito, as taxas de metabolismo podem ficar se reajustando sem parar, e eles talvez se sintam muito cansados para fazer exercícios, além de terem a tendência a escolher comidas que dão mais energia, cheias de açúcar e farinha.

Em outras palavras, mesmo que o estudante tenha dormido por sete horas duas noites seguidas, indo para a cama na primeira noite à meia-noite e acordando às sete da manhã e, no dia seguinte, pegado no sono às duas da manhã e levantando às nove, sua falta de sono seria ainda pior para organismo.

"Estudar a variação está levando esse campo de pesquisas um pouco mais longe", afirma Dean W. Beebe, especialista em sono de adolescentes e professor de pediatria no Centro Médico do Hospital Infantil de Cincinnati. Os pesquisadores normalmente medem a quantidade de sono ou a hora que as pessoas vão para a cama ou acordam. A variação diária torna o quebra-cabeça mais complicado, explica ele, mas também adiciona uma peça importante.

O estudo dos calouros na Brown só pode sugerir uma correlação. Alguns alunos perderam peso, outros não variaram. Eles não mantiveram um diário alimentar detalhado. Nem anotaram de maneira precisa suas atividades, apesar de Brandy M. Roane, a líder do estudo e professora assistente do Centro de Ciência e Saúde da Universidade do Norte do Texas, dizer que como os alunos da Brown normalmente vão de um lugar a outro do campus andando, é quase certo que deem ao menos dez mil passos por dia. Os alunos só responderam se comeram mais ou menos do que no dia anterior e se sua rotina de exercícios havia mudado.

Sem um estudo controlado do sono em um laboratório para confirmar essas descobertas, Beebe diz, é possível que a mudança de peso tenha sido causada por outra coisa, como a luta do calouro para equilibrar a vida diária: "Eles podem apenas estar desorganizados e fazendo coisas não muito saudáveis, que contribuem para o ganho de peso." Desse modo, o sono sem padrões e a dieta podem não estar relacionados, explica. Mas, pelo menos, o estudo "mostra a importância da consistência nos padrões de sono".

Os hábitos adquiridos no primeiro ano da faculdade podem ser significativos, afirmam os pesquisadores. "É um período crucial, quando eles estão sozinhos e seus comportamentos são solidificados para o futuro", diz Brandy, que avaliou dados de pesquisadores do laboratório Dormir para a Ciência da Brown.

O estudo da Brown descobriu algumas diferenças de gênero interessantes. Mais mulheres do que homens ganharam peso. Mas, individualmente, os garotos ganharam mais. O maior aumento para uma aluna foi cinco quilos e para um rapaz, oito quilos.

Em geral, o sono das moças foi mais consistente do que o dos meninos, e elas normalmente foram para a cama mais cedo. Mas, mais importante, dizem os pesquisadores, elas acordaram mais cedo, o que também ajudou a fazer com que dormissem mais cedo. Em contraste, como os garotos não eram tão consistentes com seus horários de sono, a quantidade de horas na cama flutuava mais a cada dia.

Brandy percebeu que acordando cedo, as calouras podiam também tomar o café da manhã, o que pode ser uma ferramenta para controlar o peso.

Na média, os garotos acordaram à 9h15 da manhã e as garotas à 8h45. "Os meninos saem da cama e vão direto para a aula sem nem escovar os dentes. As meninas acordam mais cedo para se 'preparar'. É o que chamamos de 'fator de vaidade'", conta Brandy.

Ela diz que implicitamente o estudo enfatizou a importância dos pais ajudarem os filhos a estabelecer bons hábitos de sono enquanto todos ainda vivem sob o mesmo teto.

"Muitos pais param de impor a hora de dormir quando seus adolescentes chegam ao ensino médio", afirma ela.

Brandy quer estimular os pais a ensinar seus filhos sobre suas necessidades de sono assim eles podem aprender a montar seus próprios horários. "Na faculdade, ninguém diz, 'você não pode dormir até a uma hora da tarde', então os alunos precisam ter a habilidade de perceber isso."

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