Pelo segundo ano seguido, Pós-graduação em Geografia da UFGD produz a melhor tese de doutorado do Brasil
Concorrendo com trabalhos de todo país, a tese “Existir e resistir: as geografias das comunidades quilombolas no município de Corumbá-MS” conquistou o Prêmio CAPES de Teses - Edição 2022, na categoria Geografia. O autor é o acadêmico João Batista Alves de Souza, do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e o resultado do prêmio foi publicado no Diário Oficial da União da última quinta-feira, 11 de agosto.
A tese, orientada pelo professor Edvaldo Cesar Moretti, analisa a existência, as trajetórias e as resistências das comunidades quilombolas Ribeirinha Família Ozório (AQUIRRIO), Ribeirinha Família Campos Correia (AQF2C) e Maria Theodora (ACTHEO). De acordo com o resumo do trabalho, uma das conclusões da pesquisa é a de que a “multipolaridade territorial gerou novas trajetórias quilombolas e esse processo está pautado na articulação entre as comunidades, o que gera maior solidariedade entre os núcleos quilombolas, fortalecendo suas lutas no direito à terra e enfatizando a inexistência de políticas públicas”.
João, que é o primeiro de sua família a concluir o ensino superior em uma universidade pública – cursou a graduação na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) – e a seguir na pós-graduação, passando pelo mestrado e pelo doutorado na UFGD, afirma que receber o prêmio é um fato marcante em sua trajetória de vida.
“A educação sempre me abriu portas. Após a conclusão do magistério comecei a lecionar nas redes municipal e estadual de ensino, e, em seguida, na rede federal, ministrando aulas de Geografia no IFMS. Após um período de vivências e andanças pela cidade de Corumbá-MS, na condição de morador e de docente do IFMS, surgiu o interesse de pesquisar, mapear e construir uma reflexão acerca do existir e resistir das comunidades quilombolas Ribeirinha Família Ozório, Ribeirinha Família Campos Correia e Maria Theodora”, conta o laureado.
Com a tese e com o prêmio, o acadêmico diz esperar um desdobramento na visibilidade dessas comunidades diante da sociedade. “Principalmente no direto à titulação de terras e no acesso a políticas públicas. Esperamos que por meio do Censo Quilombola, que será realizado pela primeira vez neste ano, o poder público atenda as demandas socioambientais desses grupos”, acredita João.
GEOGRAFIA BICAMPEÃ
É o segundo ano consecutivo que o Programa de Pós-graduação em Geografia da UFGD tem uma tese escolhida como a melhor do Brasil pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). E para o docente que orientou a pesquisa premiada, o fato é importante sob duas óticas.
“Tem uma importância institucional, que é a valorização do trabalho que realizamos na UFGD, especificamente no Programa de Geografia, e é importante pela comprovação da relevância que tem a universidade pública na formação de professores, pesquisadores e cidadãos. João é exemplo disso: fez graduação na UEMS, em Glória de Dourados, e incentivado por seus professores ingressou na pós-graduação na UFGD, fazendo mestrado e doutorado. Foi aprovado como professor do IFMS e fez uma belíssima tese, que é referência na área”, ressalta Edvaldo.
Da mesma forma, o coordenador do Programa de Pós-graduação em Geografia da UFGD, Charlei Aparecido da Silva, afirma que a conquista traz consigo o significado da realização da pesquisa geográfica nas margens fronteiriças, envolvendo pessoas e seus valores. “A tese ‘Existir e resistir: as geografias das comunidades quilombolas no município de Corumbá-MS’ torna visível o invisível, dá voz àqueles mais vulneráveis, torna o lugar conhecido, conecta lugares e relações humanas no Pantanal sul-mato-grossense. Convido todo/as a conhecerem o trabalho”, diz, considerando o prêmio um incentivo a todos os pesquisadores do programa que se dedicam à busca de uma sociedade mais justa, igualitária, inclusiva e menos predatória.
Link de acesso para a tese: https://repositorio.ufgd.edu.br/jspui/handle/prefix/4498.
O PRÊMIO
O Prêmio CAPES de Tese está em sua 17ª edição. A iniciativa reconhece os melhores trabalhos de conclusão de doutorado defendidos no Brasil e neste ano recebeu 1.266 inscrições nas 49 áreas de Avaliação da CAPES. Na segunda fase do concurso, do total de vencedores, três receberão o Grande Prêmio CAPES de Tese, um em cada Colégio: Ciências da Vida, Humanidades e Ciências Exatas, Tecnológicas e Multidisciplinar. A premiação acontece em dezembro.
A avaliação para selecionar os vencedores leva em conta a originalidade, o caráter inovador e a relevância das teses para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural e social do país. Também são consideradas a qualidade e a quantidade de publicações decorrentes da pesquisa, bem como, a metodologia utilizada, a qualidade da redação e a estrutura e a organização do texto.
Os autores das teses selecionadas receberão bolsa de até um ano para estágio pós-doutoral em instituição nacional, certificado e medalha. Seu orientador ganhará um prêmio no valor de até R$ 3 mil, além de certificado que também será oferecido aos coorientadores e ao programa de pós-graduação no qual o trabalho foi defendido.
Já o Grande Prêmio concede uma bolsa para estágio pós-doutoral em instituição internacional, por até 12 meses, certificado e troféu. Cada orientador vai receber premiação de R$ 9 mil, para participar de congresso internacional, e certificado de premiação que também será entregue aos coorientadores e ao programa. Parceiras da CAPES, a Fundação Carlos Chagas e a Dimensions Sciences oferecem prêmios adicionais.