UFGD avalia substância presente no orégano como potencial tratamento contra bactérias resistentes
Um estudo realizado por mestranda do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Meio Ambiente da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) demonstrou em ensaios in vitro (fora de um organismo vivo) e in vivo (em um organismo vivo) a atividade antimicrobiana de uma substância amplamente encontrada em ervas como tomilho e orégano: o carvacrol.
O trabalho, iniciado em 2017 pela então estudante de mestrado Gleyce Hellen de Almeida de Souza, foi concluído em 2019, resultando em artigo que foi recentemente publicado pela revista científica Plos One sob o título “In vitro and in vivo antibacterial activity assays of carvacrol: A candidate for development of innovative treatments against KPC-producing Klebsiella pneumoniae” – Atividade antibacteriana in vitro e in vivo do carvacrol: candidato para o desenvolvimento de tratamentos antimicrobiano contra Klebsiella pneumoniae produtora de KPC.
Mas e o que significa dizer que essa substância, o carvacrol, tem atividade antimicrobiana?
Certamente que grande parte da população já se deparou com a expressão “superbactérias” que, na realidade, refere-se a organismos vivos denominados cientificamente de bactérias resistentes, e que possuem grande capacidade de sobreviver aos efeitos de medicamentos potentes como os antibióticos carbapenêmicos e as polimixicinas.
Tais bactérias resistentes representam um grande problema dentro das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em todo o mundo e estão frequentemente associadas a altas taxas de morbidade e mortalidade. Ou seja, comprovar que uma substância pode ser nova candidata no tratamento dessas infecções é de extrema importância.
Sob a orientação da professora Simone Simionatto, da Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais (FCBA) da UFGD, Gleyce desenvolveu sua dissertação de mestrado e, atualmente, trabalha em sua tese de doutorado, estudando a atividade antimicrobiana de compostos bioativos, como óleos essenciais, por exemplo. Foi a partir daí que o carvacrol surgiu em suas pesquisas, já que o óleo essencial de orégano é popularmente conhecido por suas propriedades antibacterianas e antifúngicas.
“O óleo essencial de orégano mostrou uma atividade promissora em estudos anteriores desenvolvidos pelo grupo de pesquisa. Assim, surgiu a ideia de testar o composto majoritário do óleo essencial de óregano, no caso o carvacrol, para verificar se este composto isolado teria atividade antimicrobiana contra bactérias multirressistentes”, explica a doutoranda, que é graduada em Biotecnologia pela UFGD.
Para delimitar o estudo, Gleyce passou a realizar os ensaios com uma bactéria específica, a Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC), resistente à maior parte dos antibióticos conhecidos e que, quando dentro do organismo, é capaz de produzir infecções graves como pneumonia e meningite, por exemplo.
Os resultados vêm sendo satisfatórios, mas a doutoranda – atualmente no Programa de Pós-graduação da Faculdade de Ciências da Saúde da UFGD – ressalta que ainda são necessários mais testes para ampliar a avaliação da atividade antimicrobiana da substância e avançar na elucidação dos mecanismos de ação do carvacrol contra as bactérias resistentes.
A avaliação da atividade in vitro foi realizada no Laboratório de Pesquisa em Ciências da Saúde (LPCS) da UFGD e a avaliação in vivo, usando modelo de infecção em camundongos, foi realizada em parceria com o Centro Universitário da Grande Dourados (Unigran), com a colaboração do professor Thiago Leite Fraga, responsável técnico do Biotério da instituição e coordenador do curso de Medicina Veterinária da universidade.
Assinam o artigo, além de Gleyce e dos docentes Simone e Thiago, as pesquisadoras Joyce Alencar dos Santos Radai, Marcia Soares Mattos Vaz, Kesia Esther da Silva e Leticia Spanivello Barbosa, todas da UFGD. O estudo recebeu incentivo financeiro do Programa de Apoio à Pesquisa (PAP) da Pró-reitoria de Ensino de Pós-graduação e Pesquisa (PROPP) da Universidade.