Relatório entregue a Zauith sugere que Dourados fez 102 anos dia 15 de junho

Conforme a legislação em vigor desde 1953, Dourados celebrará no próximo dia 20 de dezembro 81 anos de elevação a município

Avenida Marcelino Pires na década de 1960 mostra Dourados bem diferente dos tempos atuais (Comissão de Revisão Histórica)
Avenida Marcelino Pires na década de 1960 mostra Dourados bem diferente dos tempos atuais (Comissão de Revisão Histórica)

O prefeito Murilo Zauith (PSB) recebeu nesta sexta-feira (28) um relatório que propõe adequações na história do município que administra desde 2011. Resultado de três anos de pesquisas desenvolvidas pela Comissão de Revisão Histórica de Dourados, o documento sugere 15 de junho para celebração do “dia de todos os povos de Dourados”, mesma data em que, no ano de 1914, houve a “fundação do Distrito de Paz de Dourados”, “com a sua sede no Patrimônio de Dourados”, onde fica a cidade atualmente.

Presidente dessa comissão, o historiador Carlos Magno Mieres Amarilha ressalta que o objetivo dessas propostas é descongelar memórias e fortalecer as identidades culturais da população douradense. “A gente não quer mudar, queremos acrescentar, reforçar itens de pertencimento”, explicou à 94FM.

Comissão de Revisão Histórica
Principal avenida de Dourados em 1956

De acordo com a legislação municipal aprovada em dezembro de 1953 e homologada pelo então prefeito Nelson de Araújo, Dourados celebrará no próximo dia 20 de dezembro 81 anos de elevação a município. “É uma data política. O dia mesmo é normal, quando todo mundo vai trabalhar. A gente não vai mexer com o dia 20, mas queremos o reconhecimento o dia 15 de junho”, ressalta Amarilha, para quem essa adequação histórica vai possibilitar maior mobilização social e civismo.

“Outras cidades do Brasil que tinham 20 de dezembro como data de aniversário começaram a mudar. É uma data ofuscada pelas festividades de fim de ano. Hoje Dourados é uma cidade universitária e uma grande parte dos moradores vem de fora, quando vamos cantar os parabéns essas pessoas já não estão aqui. A gente fala que é o aniversário de Dourados. Mas na lei é comemorada a emancipação política. Então Dourados teria 102 anos, se fosse para cantar os parabéns pela fundação”, pontua o historiador.

Na prática, o documento entregue em mãos ao prefeito pede “o reconhecimento do dia 15 de junho como o dia de todos os povos de Dourados. O dia do douradense. Data da fundação do Distrito de Paz de Dourados, com a sua sede no Patrimônio de Dourados (atual Dourados)”, o que aconteceu em 1914, conforme os levantamentos da Comissão de Revisão Histórica.

Os pesquisadores argumentaram que “a data ‘vinte de dezembro’, que se comemora o aniversário de Dourados fica invisível perante aos dias que antecedem as festas natalinas”, uma vez que, embora “muito exaltada na imprensa de um modo em geral”, é “esquecida pelo comércio em geral que funciona com muito movimento em suas lojas neste dia, deixando ofuscada a comemoração do aniversário de Dourados”.

A gente fala que 20 de dezembro é o aniversário de Dourados. Mas na lei é comemorada a emancipação política. Então Dourados teria 102 anos, se fosse para cantar os parabéns pela fundação”
Carlos Magno Mieres Amarilha

A segunda sugestão constante no relatório entregue a Zauith diz respeito a “acrescentar no brasão oficial de Dourados, a data de fundação dia 15 de junho de 1914, reconhecer explicitamente os povos indígenas e os imigrantes que aqui se estabeleceram desde o final do século XIX e século XX. Retirar a frase ‘Terra de Antônio João’ do dístico do brasão. Incluir uma trajetória histórica coerente sobre a História de Dourados, representados com os povos indígenas, as mulheres, os ascendentes de paraguaios, os afrodescendentes, os brasileiros agregados, o libanês, o sírio, o mato-grossense, o sul-mato-grossense, o japonês, o sul-rio-grandense, parte de fazendeiros, entre outros, que foram silenciados no brasão oficial de Dourados”.

Nesse ponto, o relatório destaca que “o tenente Antônio João Ribeiro foi morto em outro lugar, na Colônia Militar dos Dourados, em 29 de dezembro de 1864, nas proximidades do atual município de Antonio João (que não tinha nem esse nome, pois o mesmo chamava-se de Eugênio Penzo, conhecida como Colônia Penzo e por lei estadual, n.º 2198 de 08/09/1964, passou a denominar-se de Antônio João)”.

“De forma alguma, Antônio João foi combatido na atual cidade de Dourados. Essa informação é inaceitável, pois é totalmente fora da realidade. Aliás, Dourados nem existia nesta época”, conclui o relatório da Comissão de Revisão Histórica.

Segundo Amarilha, historiador que liderou as pesquisas, o trabalho agora parte para uma nova fase. Com o farto material coletado nos três anos, a intenção é convencer as autoridades municipais, na Câmara de Vereadores e na prefeitura, a implementarem as sugestões do relatório no calendário oficial do município, através de legislação específica.

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