Pneumologista fala sobre campanha da OMS e faz alerta contra o tabagismo

Tema escolhido para o Dia Mundial Sem Tabaco em 31 de maio de 2017 é “Tabaco: uma ameaça ao desenvolvimento"

  • Assessoria/HU-UFGD
Luiz Fernando Azambuja, pneumologista, chefe da Unidade do Sistema Respiratório do HU-UFGD (Foto: Divulgação/H... ()
Luiz Fernando Azambuja, pneumologista, chefe da Unidade do Sistema Respiratório do HU-UFGD (Foto: Divulgação/H... ()

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a epidemia de tabagismo continua sendo a maior ameaça à saúde pública que o mundo já enfrentou.  As evidências mostram que os produtos de tabaco são altamente letais, pois matam dois em cada três de seus consumidores, e afetam também a saúde de pessoas que não fumam mas são obrigadas a inalar a fumaça de produtos de tabaco de terceiros (fumantes passivos).

O tabagismo custa à economia global mais de US$ 1 trilhão por ano, em gastos com saúde e perda de produtividade, e matará cerca de 8 milhões anualmente até 2030, um terço a mais de pessoas do que agora. A informação é de estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos publicado no início deste anos e revisado por mais de 70 especialistas.

O custo estimado supera amplamente as receitas globais com os impostos sobre o fumo, que a OMS estimou em cerca de US$ 269 bilhões em 2013-2014. "O número de mortes relacionadas ao tabaco deverá aumentar de cerca de 6 milhões de mortes para cerca de 8 milhões anualmente até 2030, sendo que mais de 80% delas vão ocorrer em países de baixa e média renda", diz o estudo.

Cerca de 80% dos fumantes vivem nesses países e especialistas em saúde dizem que o uso do fumo é a maior causa evitável de morte globalmente. A perda de produtividade e o tratamento de doenças tabaco-relacionadas, altamente incapacitantes e fatais, geram enormes prejuízos para as nações. No entanto, esses danos não se limitam à esfera do consumidor. A cadeia de produção de tabaco também gera danos ambientais, sanitários e sociais para quem produz, especialmente no meio agrícola, ampliando a dimensão dos danos e prejuízos tabaco-relacionados para as sociedades.

No Brasil, estudo sobre impacto econômico do tabagismo no SUS, revelou que em 2011 foram gastos R$ 23 bilhões com o tratamento de algumas das mais de 50 doenças tabaco-relacionadas. De outro lado, a arrecadação com impostos sobre cigarros (produto de tabaco mais consumido) recolhidos naquele ano foi da ordem de R$ 6 bilhões. Mas o custo do tabagismo no Brasil, avaliado pela pesquisa, ainda está subestimado: não incluiu o custo gerado pelo absenteísmo, perda de produtividade, despesas das famílias dentre outros gastos indiretos relacionados ao tabaco.

O pneumologista Luiz Fernando Azambuja, chefe da Unidade do Sistema Respiratório do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), comenta os dados da OMS e faz um aleta: “Parar de fumar é uma das medidas mais importantes de proteção à saúde”. Confira a entrevista completa, realizada pela Unidade de Comunicação Social do HU-UFGD:

UCS/HU-UFGD. Estudo recente da Organização Mundial de Saúde (OMS) mostra que, embora a prevalência de tabagismo esteja caindo entre a população global, o número total de fumantes em todo o mundo está aumentando. O número de pessoas com doenças relacionadas ao hábito de fumar também está aumentando?

Luiz Fernando. Isto ocorre pois o número total de fumante aumentou. Atualmente, a cada ano, 5 milhões de pessoas morrem por doenças relacionadas ao cigarro, cerca de 6 mortes a cada segundo. Se não houver mudanças, em 2025, esse número passará de 10 milhões.

UCS/HU-UFGD. Atualmente, quais os principais problemas de saúde relacionados ao consumo do tabaco?

Luiz Fernando. A fumaça do tabaco contém quase 5 mil toxinas que podem causar, com o tempo, mais de 50 diferentes doenças, como aquelas estampadas nas imagens dos maços de cigarros. Segundo a Organização Mundial de Saúde, o tabagismo é a principal causa de morte evitável em todo o mundo, sendo responsável por 63% dos óbitos relacionados às doenças crônicas não transmissíveis. Entre essas, o tabagismo é responsável por 85% das mortes por doença pulmonar crônica (bronquite e enfisema), 30% por diversos tipos de câncer (pulmão, boca, laringe, faringe, esôfago, pâncreas, rim, bexiga, colo de útero, estômago e fígado), 25% por doença coronariana (angina e infarto) e 25% por doenças cerebrovasculares (Acidente Vascular Cerebral). Além de estar associado às doenças crônicas não transmissíveis, o tabagismo também é um fator importante de risco para o desenvolvimento de outras doenças, tais como tuberculose, infecções respiratórias, úlcera gastrintestinal, impotência sexual, infertilidade em mulheres e homens, osteoporose, catarata, e outras.

UCS/HU-UFGD. É possível afirmar que mudou o perfil do fumante nos últimos anos?

Luiz Fernando. Nos dias atuais, há um aumento percentual do número de fumantes em países em desenvolvimento (como China e Índia). O consumo de cigarros está aumentando entre as mulheres e houve leve queda na prevalência entre os homens, principalmente nas classes sociais mais favorecidas.

UCS/HU-UFGD. Quais as orientações para quem quer deixar de fumar?

Luiz Fernando. Assim como em qualquer doença crônica – e o tabagismo é classificado como uma doença crônica pela Organização Mundial da Saúde –, é muito importante procurar ajuda médica o mais cedo possível, para prevenir a ocorrência das doenças relacionadas ao tabaco. Parar de fumar é bom em qualquer época e idade, pois sempre haverá benefícios na qualidade e na quantidade de anos vividos pela pessoa fumante. E é importante lembrar que com ajuda médica a pessoa se sentirá mais segura e confiante no êxito da tentativa.

UCS/HU-UFGD. E para quem não pretende abandonar o consumo do tabaco, qual o alerta?

Luiz Fernando. É importante ter consciência de que a cessação, o parar de fumar, é uma das medidas mais importantes de proteção à saúde. A pessoa que é tabagista precisa ter consciência inclusive sobre os malefícios do fumo passivo. Ou seja, o fumante precisa saber que, além de prejudicar a si próprio, causa danos também à saúde de quem está à sua volta e acaba por inalar a fumaça, tornando-se, sem querer, um fumante passivo.

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