Coletivo Olhares questiona Sérgio Nogueira sobre declarações consideradas homofóbicas pela comunidade
Bruno Barbosa, professor e representante do Coletivo Olhares, grupo formado por jovens que buscam a conscientização e respeito sobre a homossexualidade, concedeu entrevista ao site da 94 FM sobre as declarações polêmicas proferidas pelo vereador Sérgio Nogueira.
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O representante da entidade afirmou que as palavras são ‘carregadas de preconceito’, quando ele exclui, discrimina e fala sobre a identidade da comunidade LGBTT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e travestis). A ausência de uma legislação protetiva, combinada com posições individualistas, só aumentam a discriminação.
Para o Coletivo Olhares, a capacidade procriativa, o moralismo e religião não são fundamentos para serem considerados elementos diferenciador de família. “Família vai além de um pai, um mãe e dois filhos, de preferência héteros. O conceito da constituição familiar é bem diferente. Os gays também tem pai, mãe e irmãos, ou isso não é família?”, indagou.
Bruno Barbosa falou sobre a questão das crianças órfãs e sobre as escolhas no momento de uma adoção. “Crianças órfãs não fazem distinção entre casal hétero ou Homo. Eles fazem questão de pessoas que lhe deem amor e respeito”, disse.
Os questionamentos fizeram a sociedade douradense pensar sobre a realidade social, que não pode ser congelada ou paralisada em virtude do preconceito e da discriminação, afinal, as mudanças são constantes no século XXI.
Uma das grandes reivindicações do Coletivo Olhares é a violência física e moral contra pessoas que assumem sua identidade sexual. Para ele, o importante no momento são as pessoas se respeitarem, independente da sua cultura, raça e credo.
O Coletivo Olhares produziu uma carta que “deve ser entregue ao vereador na melhor circunstância”, disse Bruno.
Veja a entrevista:
Veja a nota na íntegra:
CARTA DE REPÚDIO DO COLETIVO OLHARES AO VEREADOR SÉRGIO NOGUEIRA (PSB, Dourados, MS)
Matéria veiculada no dia 15 de setembro de 2014 no site 94fmdourados.com.br aponta que o vereador Sérgio Nogueira (PSB, Dourados, MS), durante sessão da câmara municipal, manifestou preocupação com palestras contra homofobia.
O referido parlamentar propôs enviar homossexuais a uma ilha por 50 anos e acrescentou: “não podemos passar a ideia de que o anormal é normal”.
Pois bem. O conceito de família não pode limitar-se à critérios ligados à reprodução. Fosse assim pessoas inférteis, por exemplo, não poderiam constituir família? O que o referido vereador não deve saber é que na sociedade brasileira atual, já é normal existirem famílias monoparentais. E que ela é sim, inclusive, prevista na Constituição Federal (art. 227). Evidentemente, essa formação não exclui outros arranjos familiares que também são normais, reais.
Invertamos a lógica do vereador. Coloquemos heterossexuais em uma ilha por 50 anos. O que garantiria que essas pessoas fossem reproduzir-se? Mesmo nessa hipótese, isso seria suficiente para afirmar que se trata de famílias? Se ainda admitirmos que sim, formariam famílias, quem garante que não haveria homossexuais?
Capacidade reprodutiva não diz muito sobre orientação afetivo-sexual. Pessoas homossexuais também são frutos de famílias. E também constituem famílias. Pessoas homossexuais são pessoas.
Reduzir o conceito de família à critérios puramente biológicos/reprodutivos é ignorar a realidade. Já que o parlamentar falou sobre o que é rasgar a constituição, lembremos que isso inclui falar um absurdo desses em um país que é recordista mundial de mortes homo-lesbo-transfóbicas. Rasgar a Constituição dizer isso em um momento em que as pessoas estão ainda chocadas com a uma morte brutal que pode ter relação com violência homofobia. Rasgar a constituição é ignorar a dignidade da pessoa humana e o livre direito aos relacionamentos afetivo-sexuais.
Rasgar a Constituição é balizar as ações em escrituras sagradas que condenam determinadas práticas. Rasgar a constituição é evocar líderes religiosos para que se coadunem nestas ações. Rasgar a constituição é ignorar o caráter laico do Estado e esquecer que, durante o exercício da função, nenhum(a) vereador(a) é pastor(a).
Discursos como este só reforçam e fazem aumentar a violência homo-lesbo-transfóbica que, paradoxalmente, é combatida por, entre outros meios, ações do poder público. Poder público que tem o dever de zelar pelo bem de todos/as, independentemente de suas convicções, orientações sexuais, classes, cores, religiões etc.
Nós, do coletivo Olhares, reafirmamos nossa defesa por um Estado laico e plural, atento e enaltecedor da diversidade, inclusive a sexual e, por isso mesmo, repudiamos a postura do vereador Sérgio Nogueira.