Cirurgia para emagrecer é segura, mas sucesso depende da disciplina do paciente

Constantemente se vê muitas pessoas apostarem na cirurgia bariátrica, conhecida também como cirurgia da obesidade, para perder peso. Pacientes que procuram pelo procedimento seguem a opção, em muitos casos, pelo fato de não terem tido sucesso com dietas e uso de medicamentos para diminuir medidas.
No Brasil, conforme informações do cirurgião médico de Campo Grande, Cesar Giovani Conte, a obesidade mórbida representa 3% da população brasileira. Considera-se obeso mórbido a pessoa que tem o IMC (Índice de Massa Corporal) superior a 40kg/m². Pacientes nesta situação tem indicação para ser operado, no entanto, muitos fantasmas ainda rondam a mente das pessoas e levantam dúvidas em relação à cirurgia.
Abaixo, o especialista responde alguns questionamentos e avisa os interessados: é necessária uma disciplina rigorosa para se obter sucesso no procedimento.
Quem pode se submeter à cirurgia para perder peso?
Dr. Cesar: Pacientes com IMC acima de 40kg/m², maiores de 16 anos que tenham tido falência no tratamento endocrinológico e pacientes afetados por doenças causadas pelo excesso de peso, como diabetes, que tenham altos índices de colesterol e triglicerídeos, pressão alta e outras doenças. Mas é necessário que a pessoa entenda que a cirurgia não é a cura, mas sim um procedimento que precisa de acompanhamento e reposição de vitaminas para o resto da vida. Ele precisa entender que é melhor tomar remédio para repor vitaminas do que para controlar a diabetes, por exemplo.
Quais os principais benefícios recebidos pela pessoa que passa pela cirurgia bariátrica?
Dr. Cesar: Além de perder peso, consegue-se diminuir a pressão arterial e até mesmo normalizá-la. Quem tem diabete pode até reduzir significativamente o uso de remédios e até mesmo deixá-los. Sem contar que o paciente mais magro tem mais facilidade de se inserir no mercado, maior expectativa de vida e melhora no desempenho sexual. Com a realização da cirurgia você consegue tratar todas as doenças relacionadas à obesidade mórbida.
Qual o caminho a ser seguido pelo paciente que quer passar pela cirurgia redutiva?
Dr. Cesar: Conforme resolução do Conselho Federal de Medicina, além de ter também uma normatização da Sociedade de Cirurgia Bariátrica, o paciente tem que ter uma avaliação endocrinológica, psiquiátrica, psicológica, nutricional, além de uma análise cardiológica e de outras especialidades necessárias. É preciso também que o paciente assine um termo de consentimento dizendo que é livre e espontânea a vontade de fazer a cirurgia.
Quais os impactos causados no organismo da pessoa depois de ela passar pela cirurgia?
Dr. Cesar: Qualquer técnica que seja feita no paciente ele precisará de reposição vitamínica. É gerada uma menor absorção de determinadas vitaminas e sais minerais, por isto ele precisa da reposição. Quem não repõe está sujeito a deficiências. Existem basicamente dois tipos de cirurgias e a mistura destas duas gera uma terceira, que é a cirurgia mista. Ou seja, existe uma cirurgia restritiva, onde se come menos e outra disabsortiva, onde se absorve menos. A terceira, a mista, é quando come-se e absorve-se menos. Basicamente, são estes os modelos da cirurgia. Sendo assim todo paciente vai comer menos, está é a ideia. Além disto, ele sofre uma influência hormonal muito grande em virtude do procedimento. Quem é diabético, por exemplo, melhora muito antes de começar a perder peso quando ele ainda tem reserva pancreática em virtude desta influência. A pessoa terá os desejos por comida, mas com o estômago menor qualquer quantidade de alimento gerará saciedade.
O que leva o paciente que se submeteu ao procedimento a morte?
O que não se sabe ou o que não se divulga é que a pessoa que vai a óbito tem obesidade mórbida. Quando ela nos procura já tem uma ou duas doenças associadas ao próprio peso. A questão do risco da cirurgia foi minimizada por conta da evolução tecnológica dos materiais, dos dispositivos de grampeamento. Então o risco continua sendo o do próprio paciente. O procedimento em si vem evoluindo a passos largos e é importante que se saiba que o paciente tem doenças associadas. O índice de mortalidade é de 0,1%, uma a cada mil pessoas, é um dado mundial. O que determina mesmo a maioria dos óbitos são os riscos que a pessoa tem antes dela se submeter à cirurgia. Mas os cirurgiões se preocupam bastante com a fístola, que é a não cicatrização da costura e com a embolia. No entanto, na maioria dos casos os pacientes têm complicações prévias à cirurgia.
O que ocorre com o paciente que acredita estar ‘curado’ depois de ter feito a cirurgia?
Dr. Cesar: O pós-operatório inicia-se com dietas líquidas e caldos e assim vai progredindo. O intuito é que a pessoa volte a comer tudo dentro de 2 ou 3 meses depois do procedimento. Mas o estômago da pessoa que não mantém a disciplina pode aumentar. Em alguns casos em que existe a não adesão ao tratamento o peso do paciente chega a dobrar.
Tem aumentado a procura pela cirurgia?
Dr. Cesar: Desde 2012, quando teve a liberação da cirurgia por vídeo, muitos pacientes que tinham restrições ao procedimento começaram a procurar mais pela cirurgia. A influência de atores que alcançaram resultados com o procedimento também contribuiu para o atual nível de busca pela operação.
Dr. Cesar compõe uma equipe de cirurgiões que realiza aproximadamente 40 cirurgias por mês. Formado pela Universidade Federal do Paraná, Cesar Giovane Conte, tem 35 anos e atualmente atende no Instituto do Aparelho Digestivo, em Campo Grande.