Pesquisadoras da UFGD conquistam R$ 440 mil pela chamada Mulheres na Ciência Sul-mato-grossense

  • Assessoria/UFGD
A pesquisadora Késia Neves faz a discussão de gênero na área de História da Educação Matemática (Foto: Divulgação/UFGD)
A pesquisadora Késia Neves faz a discussão de gênero na área de História da Educação Matemática (Foto: Divulgação/UFGD)

A Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect) divulgou, na semana passada, o resultado da Chamada Fundect 10/2022 - Mulheres na Ciência Sul-mato-grossense. Dos 26 projetos de pesquisa e inovação aprovados para instituições de todo MS, seis foram propostos por pesquisadoras da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). Somados, os recursos desses estudos representam R$ 440.595,97 de investimento em produção científica liderada por mulheres, em diversas áreas do conhecimento.

Para ilustrar a importância de realizar uma seleção exclusiva para as pesquisadoras, dois dados estatísticos, levantados em fevereiro de 2022, estão apresentados no portal eletrônico da Fundect: somente 32% do total das bolsas de produtividade em pesquisa (PQ) e produtividade em desenvolvimento tecnológico e extensão inovadora (DTI) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) são concedidos a mulheres no MS e, dentre os grupos de pesquisa cadastrados no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, apenas 45% são liderados por mulheres.

Diante desse cenário, a Fundect afirma “entender que se faz necessária a execução de ações afirmativas no sentido de atenuar essa assimetria de gênero na liderança de projetos científicos no âmbito do estado, proporcionando assim um maior protagonismo feminino no desenvolvimento da CT&I regional”.

Para a zootecnista Ana Carolina Orrico, uma das pesquisadoras da UFGD que conquistaram o Mulheres na Ciência Sul-mato-grossense, o caráter dessa proposta de fomento estimula muitas colegas a persistirem na trajetória da ciência e isso realmente é  importante. “Sabemos que geralmente a rotina da mulher possui uma maior diversidade de demandas do que a dos homens e isso dificulta muito o foco na produção científica. Então uma proposta com maior igualdade de condições é, sem dúvida,  saudável e estimulante”, considera a professora da Faculdade de Ciências Agrárias (FCA/UFGD).

A concentração e tempo disponível para dedicar-se à pesquisa é diferente para homens e mulheres por causa da sobrecarga de tarefas que as mulheres enfrentam dentro e fora de casa. A divisão das responsabilidades é reflexo do sistema patriarcal e um dos exemplos disso são os cuidados com os filhos.

“Temos que programar uma gravidez, por exemplo, pois sabemos os obstáculos que teremos que conciliar. Ajudaria muito uma política igual a que outros lugares já fazem, da compensação de trabalho e produção científica para aquelas mulheres que estão em período de início da maternidade”, sugere outra pesquisadora da UFGD contemplada na seleção, a docente da Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia (FACET), Késia Caroline Ramires Neves.

Atribuir os trabalhos de cuidado ao gênero feminino traz impactos nas profissões e, consequentemente, nas diversas áreas de produção do conhecimento. “Na minha área, percebo essa necessidade de estimular as pesquisadoras. Sou Zootecnista e na minha época de graduação ocorria o inverso do que temos hoje em nossas salas de aula, os cursos de Ciências Agrárias eram dominados pelos homens, então, quando competimos agora por editais de financiamento, ainda concorremos com uma parcela maior de homens”, conta a professora Ana Carolina Orrico.

Já na matemática, Késia Neves observa que, à primeira vista, parece que o número de pesquisadoras é igual ou maior ao número de pesquisadores. “Porém, no que chamamos de ‘matemática pura’, isso não ocorre. Há mais homens do que mulheres. Já no que denominamos ‘educação matemática’, temos mais mulheres engajadas. Por que disso? Porque temos a herança de que as mulheres são mais ligadas à educação e os homens ao raciocínio lógico, ou resolvedor de problemas, etc. Como se essas coisas fossem dissociadas. Isso é uma resposta bem resumida para algo complexo”, pondera a pesquisadora.

Inclusive, o projeto da Késia Neves que receberá recursos da Fundect aprofunda a discussão de gênero na área de História da Educação Matemática, questionando, entre outros pontos, se houve uma matemática diferente para ensinar meninas e meninos. Para exemplificar situações assim, ela conta que, entre os anos 1900 a 1950,  em um livro didático com mais de 100 edições, designado “para meninas e meninos”, há menção “aos meninos” no livro todo, enquanto as meninas são referenciadas apenas quando se trata de adição e subtração. Quando se adentra à multiplicação ou à divisão, não há exercícios que façam referência às meninas. “Por que disso? O autor simplesmente esqueceu de usar o termo ‘meninas’ no restante do livro? Isso é o que temos estudado e queremos investigar mais. Como a matemática esteve ou foi envolvida nesses processos de diferença de gênero”, explica a pesquisadora.

No entanto, segundo Késia Neves, ainda que a pesquisa seja histórica, a intenção é mostrar caminhos para que as meninas se sintam empoderadas, por meio também da matemática, para que acreditem mais em si, apostem na sua capacidade.

Na perspectiva desta chamada da Fundect, a igualdade de gênero e o empoderamento de mulheres na ciência contribuirá de forma crucial não apenas para o desenvolvimento econômico dos países, mas também para o progresso em todos os objetivos e metas da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). A busca pelo cumprimento dos objetivos (ODS) dessa agenda é, atualmente, um dos critérios obrigatórios na seleção de projetos que recebem recursos do governo do estado, em diversos editais.

Confira a lista, por ordem alfabética, das pesquisadoras da UFGD contempladas pela chamada Mulheres na Ciência Sul-mato-grossense:

Ana Carolina Amorim Orrico - FCA - Influência da composição do biochar na emissão de gases de efeito estufa durante a compostagem dos resíduos de pescado - R$ 78,356.80

 

Arlene Sobrinho Ventura - FCA - Atividade farmacológica do óleo essencial de Ocimum basilicum e suas implicações fisiológicas na anestesia de tilápia-do-Nilo Oreochromis niloticus - R$ 57,519.20

 

Claudia Cristina Ferreira Carvalho - FAED - Estudo comparativo das redes de bem-estar protagonizado por mulheres em cidades-gêmeas do Mato Grosso do Sul com base na superação das violências desigualdades e vulnerabilidades. 78,058.43

 

Eliana Janet Sanjinez Argandona - FAEN - Produto biotecnológico em pó com bioativos microencapsulados de pequi para enriquecimento e agregação de valor - R$ 88,986.54

 

Fabiane Ribeiro Caldara - FCA - Impactos do enriquecimento ambiental sonoro no bem-estar saúde e produtividade de frangos de corte - R$ 83,465.00

 

Késia Caroline Ramires Neves - FACET - Investigações sócio-históricas acerca de saberes de referência para a docência em matemática: saberes sobre a inclusão de gênero sobre a matemática do ensino e os da formação de professores - R$ 54,210.00


Relação dos projetos aprovados produzida pela PROPP/UFGD
Relação dos projetos aprovados produzida pela PROPP/UFGD


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