Defesa de PF que matou amigo advogado quer imagens do crime para levar ao júri
A pouco mais de 20 dias do julgamento por corpo de jurados, Justiça ainda não encontrou gravações que advogado do réu garante ter visto
A defesa do policial federal Marcello Portela da Silva, de 37 anos, acusado de matar a tiros o advogado Márcio Alexandre dos Santos, de quem era amigo, está à procura das imagens do crime ocorrido na madrugada de 25 de outubro de 2014. O agente vai a júri popular no próximo dia 1º de junho e seu advogado considera fundamentais gravações que a Justiça agora tenta encontrar sem sequer saber se existem de fato.
No dia 11 de abril, ao requerer os elementos que avalia essenciais para sua atuação no Tribunal do Júri, o advogado Maurício Rasslan, defensor do réu, indicou a existência de gravações feitas por câmeras de uma residência e de um bar que, segundo o jurista, registram a tentativa de assalto que Marcello e Márcio sofreram no cruzamento das ruas Albino Torraca e Ciro Mello, na Vila Progresso, em Dourados.
GRAVAÇÕES FUNDAMENTAIS
“Conforme notícias nestes autos, a Polícia Civil (ou o cartório) possui as filmagens de duas câmeras de monitoramento, cito; Rua Albino Torraca (no local dos fatos) e na Av. Weimar Torres (conveniência “Me Salva”). Assim, Requer a este Juízo que tais filmagens sejam colacionadas aos autos, pois são FUNDAMENTAIS para a defesa plena (sic)”, pontuou Rasslan na ocasião.
No entanto, em ofício do dia 3 passado, o delegado da Polícia Civil Mateus Zampieri Nogueira comunicou ao juiz responsável pelo caso que "não foi localizado registro de recebimento das imagens referentes aos fatos envolvendo a vítima Márcio Alexandre dos Santos na cópia do Inquérito Policial arquivado em cartório".
BOM ENTENDIMENTO
Com essa informação e diante da proximidade do julgamento, a defesa do policial federal apelou novamente ao magistrado por considerar “que as imagens são imprescindíveis para o bom entendimento da dinâmica dos fatos em plenário pelos senhores Jurados”.
“As imagens em questão mostram o momento exato da abordagem dos meliantes ao veículo da Vítima Marcio Alexandre Santos e do seu amigo Marcello Portela Silva. (Imagens da rua Albino Torraca, local do crime). Já as imagens da Av. Weimar Torres (distribuidora de bebidas ME SALVA) mostra o momento exato em que os bandidos observam as Vítimas descendo da camionete e indo comprar as duas últimas cervejas. O Patrono que esta subscreve teve acesso e viu os vídeos durante o inquérito policial, assim, os vídeos existem e deveriam estar encartados nestes autos ou arquivados em cartório”, relatou Rasslan em petição feita na segunda-feira (8).
CASO EXISTENTES
Nessa mesma oportunidade, o advogado também requereu ao magistrado que as imagens fossem procuradas “em seus arquivos ou ainda junto a 2ª Vara Criminal onde tramitou os processos referente ao crime de roubo”.
Ainda na segunda-feira, o juiz César de Souza Lima, titular da 3ª Vara Criminal, onde tramita o processo, oficiou à 2ª Vara “para fornecer cópias das imagens a que se refere a defesa, caso existentes”.
Advogado levou tiro na cabeça após ser baleado sete vezes e atropelado pela caminhonete (Foto: Sidnei Bronka/Arquivo94FM)
O CRIME
De acordo com a denúncia oferecida pelo MPE-MS (Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul), o advogado Márcio Alexandre dos Santos voltava de uma festa conduzindo sua caminhonete Toyota Hilux SW4 e acompanhado do amigo Marcello Portela, quando, por volta de 3h30 do dia 25 de outubro de 2015, pararam no cruzamento das ruas Albino Torraca e Ciro Mello, na Vila Progresso, para o policial federal urinar atrás de uma árvore.
Neste momento, os dois foram abordados por quatro homens que chegaram de carro para roubar a caminhonete do advogado. Ao perceber a situação, Portela disparou várias vezes com sua pistola Glock de uso da PF e atingiu um dos assaltantes, mas em seguida atirou novamente e feriu Márcio pelo menos sete vezes, que mesmo depois de ter caído no asfalto e ser atropelado pela própria caminhonete – na qual um dos assaltantes fugiu -, foi alvejado por um disparo na cabeça.
Sem munição, o agente federal correu, mas deixou cair o carregador da arma. Somente horas depois ele se apresentou à polícia e desde então reafirma que baleou o próprio amigo por tê-lo confundido com um dos homens que tentavam assaltá-los. Seu advogado argumentou no decorrer do processo que a confusão ocorreu porque ambos estavam bêbados.
ASSALTANTES
Naquela ocasião, o agente também baleou Isaque Daniel Gonçalves Baptista, que o tentou abordar armado com um revólver calibre 22. No dia 1º de julho de 2015, Baptista foi condenado pelo crime de roubo majorado a uma pena de 7 anos e 4 meses de prisão em regime fechado, em decisão do juiz Marcus Vinícius de Oliveira Elias, titular da 2ª Vara Criminal de Dourados. Nessa mesma data, o magistrado absolveu Emerson Antunes Machado, que foi denunciado pelo MPE, porém considerado inocente.
No dia 24 de agosto de 2016, o juiz Marcus Vinícius de Oliveira Elias condenou Ângelo Ramão Bardão Rocha, conhecido por "Gordinho”, a pena de 9 anos, três meses de reclusão e 90 dias-multa também por roubo majorado. Ele teria sido o responsável por levar a caminhonete roubada até o Paraguai.
Outro denunciado pelo MPE por participação no roubo da caminhonete, Aldair Barbosa Souza foi condenado no dia 17 de abril deste ano à pena de 9 anos, 9 meses de reclusão e 90 dias-multa em regime inicial fechado. A sentença, assinada pelo juiz Marcus Vinícius de Oliveira Elias, da 2ª Vara Criminal de Dourados, é referente ao crime de roubo.