Com paralisia causada por síndrome rara, homem tem atendimento negado no HU

Comerciário douradense vive drama enquanto problema de saúde tem aparente agravamento

Na terça-feira Samu foi chamado para socorrer Wenderson, que sentia fortes dores (Arquivo Familiar)
Na terça-feira Samu foi chamado para socorrer Wenderson, que sentia fortes dores (Arquivo Familiar)

O comerciário Wenderson Lopes, de 34 anos, tem passado por dias de angústia. Diagnosticado em 2012 com uma síndrome rara que afeta sua medula e o deixa sem força para movimentar braços e pernas, ele não consegue dar continuidade ao tratamento médico indispensável para seguir a vida. Depois de passar por delicada cirurgia na cabeça em fevereiro de 2015, tem tido negados os encaminhamentos de retorno ao HU-UFGD (Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados).

Esse drama cresce a cada dia, segundo a mulher dele, Marina Martins Gamarra, de 34 anos, desesperada ao ver o marido deitado num sofá queixando-se de fortes dores nas costas e com dificuldades para mover, sobretudo, a perna direita. Há quatro anos, ele foi diagnosticado com a síndrome de Arnold-Chiari tipo 0, descrita na literatura médica como uma má formação rara e congênita do sistema nervoso central.

Medo e esperança

Fortes dores nas costas, formigamento por todo o corpo e perda de sensibilidade nos braços e pernas foram os sintomas que trouxeram medo o levaram a procurar auxílio médico. Nas consultas não descobriam a causa, mas uma ressonância magnética feita por atendimento particular constatou a síndrome raríssima, até então sem nenhum outro caso conhecido em Dourados.

Depois da cirurgia feita no Hospital da Vida com urgência em fevereiro de 2015, veio uma esperança. “Ele teve boa melhora depois da cirurgia, passou a não sentir formigamento, recuperou a sensibilidade dos braços e das pernas”, explica Marina. Mas os retornos direcionados ao HU, que incluem sessões de fisioterapia, passaram a ser negados.

Mais dores

Arquivo Familiar
Wenderson foi socorrido pelo Samu na terça-feira, com fortes dores nas costas

“Ele começou a sentir dores novamente no domingo, aí na terça-feira piorou. Tive que chamar o Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência] porque ele não levantava mais. Levaram ele para a UPA [Unidade de Pronto Atendimento] e ficou internado. Mas liberaram ele porque não tem neurocirurgião e nos hospitais também porque o prefeito não renovou o contrato dos neurocirurgiões pelo SUS [Sistema Único de Saúde]”, desabafa.

Enquanto passa por esse momento de angústia, Lopes aguarda sem respostas o pedido de encaminhamento para o HU. É nessa unidade hospitalar que uma equipe composta por quatro neurocirurgiões lhe acompanhava desde que fizeram a cirurgia. Ali ele passou por consulta no dia 23 de junho e deveria fazer um retorno em três semanas.

Sem retorno

Ele passou a usar bengala depois da cirurgia e sente dores fortes nas costas e tem que ficar deitado. Piorou de novo e vai ter que voltar de novo para UPA onde só dão Dipirona e Morfina”,
Marina Martins Gamarra, esposa do paciente

“Já vai fazer um mês que não tem atendimento. Estava liberado, indo nas consultas, fez três ressonâncias no HU e agora que ia encaminhar o tratamento agravou a doença”, lamenta Marina, a mulher do paciente. Ela informa que o Hospital Universitário não aceita seu marido sob a alegação de não poder interna-lo por falta de equipe capacitada para o caso. “Estamos aguardando resposta do HU porque os neurocirurgiões do HU não tiveram o contrato renovado com a prefeitura”.

Mas o secretário municipal de Saúde, Sebastião Nogueira, contesta essa alegação. Segundo ele, embora a renovação contratual entre a Prefeitura de Dourados e o HU esteja em discussão por causa da exigência de mais R$ 800 mil nos repasses à unidade, o atual contrato segue em vigor e garante manutenção dos pagamentos até agora acordados entre as partes.

Jogo de empurra

“O Hospital Universitário está atendendo normalmente todos os pacientes. O contrato ainda está aberto, está atendendo normalmente”, ressaltou o secretário de Saúde. “Não é por isso que deixou de atender, se deixou de atender é porque o HU não quis, é o grande problema do HU, sempre nega”, acusou Nogueira.

Procurado pela 94FM, o HU-UFGD informou ter dispensado os médicos que atuavam na área de neurocirurgia por questões financeiras. Segundo a unidade hospitalar, desde 2015 a prefeitura era informada de que teria que acabar com esse serviço, porque, por ele não estar no contrato, era custeado exclusivamente pelo HU, sem aporte do SUS. O Hospital Universitário alega que além dos salários dos médicos, tinha que custear os procedimentos, todos caros. E aconselha o paciente a buscar solução para o problema com a Secretaria Municipal de Saúde. (veja a manifestação do HU na íntegra abaixo)

Drama continua

Enquanto a situação permanece sem que as autoridades apontem soluções, Wenderson Lopes continua a passar por dias de angústia. “Ele operou no Hospital da Vida com urgência em fevereiro do ano passado e passou a ser encaminhado no HU, onde era avaliado. Fizeram fisioterapia. Agora ele está pior e não tem médico. Se tivesse já tinha internado ele e medicado. Nenhum médico da UPA fala o que tem a fazer. Tem que ser um especialista”, diz a esposa do paciente, desesperada com o aparente agravamento da doença.

“Ele perde os movimentos porque atinge a medula e a coluna. Ele passou a usar bengala depois da cirurgia e sente dores fortes nas costas e tem que ficar deitado. Piorou de novo e vai ter que voltar de novo para UPA onde só dão Dipirona e Morfina”, lamenta Marina.

Pouco depois da publicação dessa matéria, a reposta formal do HU sobre o caso foi encaminhada à 94FM. Leia na íntegra:

O Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD) não é referência (não possui habilitação) para a especialidade de neurocirurgia, porém mantinha contrato com profissionais médicos dessa área na modalidade de sobreaviso, para o caso de haver necessidade de avaliações e cirurgias durante tratamentos de outras especialidades, como a Pediatria, por exemplo.

Paralelo a isso, esses profissionais se dispuseram a realizar consultas de neurocirurgia, para suprir a demanda da região pelo atendimento na área. No entanto, por não ser a referência para tais atendimentos na cidade, tanto ambulatoriais quanto cirúrgicos, o HU-UFGD arcava por conta própria com o salário dos médicos e o custeio dos insumos, acarretando despesas que não tinha mais condições de manter.

Desde 2015, portanto, o hospital vinha tentando resolver o impasse, tendo oficiado por diversas vezes à Secretaria Municipal de Saúde sobre seu planejamento de encerrar a oferta da especialidade, que, em Dourados, tem o Hospital da Vida como referência. Por fim, no início do mês de julho de 2016 tais profissionais tiveram seus contratos encerrados com a Fundação Municipal de Saúde e Administração Hospitalar de Dourados (FUMSAHD) e, desde então, cabe ao gestor municipal de saúde orientar os pacientes sobre o fluxo de atendimento.

Cabe informar que o HU-UFGD, em seu planejamento de encerrar a oferta da especialidade, fechou a agenda para marcação de novas consultas 45 dias antes do desligamento dos médicos, justamente para não causar impacto no tratamento dos pacientes, tendo realizado os últimos agendamentos para o mês de junho, como no caso do paciente em questão. Para eventuais retornos, a orientação é que os pacientes busquem a continuidade do tratamento junto à Secretaria Municipal de Saúde.

*Matéria editada às 18h38 para acréscimo de informações. Foi incluída a manifestação formal do HU sobre esse caso.

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