Ciclista é feito refém na Reserva de Dourados após índio ser baleado
O clima de tensão em decorrência da crescente briga por terra aumenta a cada dia em Dourados. Na quinta-feira (17) um homem foi feito refém por indígenas na Aldeia Jaguapiru. Ele disse que fazia trilha de bicicleta pelas estradas da Reserva quando foi abordado. Momentos antes, um índio havia sido baleado na mesma região.
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Fabricio Chaves Dal Lago Rodrigues, de 46 anos, só foi libertado pelos índios após 45 minutos de negociação liderada por uma equipe da Força Tática, grupo da PM (Polícia Militar). Os policiais foram acionados para atender uma ocorrência de cárcere privado e ameaça na Reserva Indígena.
Conforme o relato policial, ao menos 60 indígenas, entre homens, mulheres e crianças, mantinham Frabrício como refém. Agressivos e ameaçando invadir a Fazenda Cristal, vizinha a área, para fazer justiça em nome do índio baleado, muitos deles portavam foices, facas, facões e rojões.
Na versão dos moradores da Reserva, os indígenas Claudemir Feliciano Moraes e Jonemar Ramos Machado estavam escondidos numa mata às margens de uma estrada vicinal entre a Aldeia Jaguapiru e a Fazenda Cristal. Essa propriedade rural tem sido palco de recentes confrontos com produtores rurais que acusam invasões.
Claudemir disse que estava acompanhado do amigo Jonemar quando, ao entardecer, ouviu-se um barulho de tiro que atingiu Jonemar nas costas. Ninguém conseguir ver de onde partiu o disparo. Um grupo de indígenas socorreu Jonemar ao Hospital da Vida, onde permanece internado. Depois disso, eles informaram ter encontrado Fabrício Chaves Dal’Lago Rodrigues percorrendo as estradas vicinais da aldeia de bicicleta.
Familiar de um dos maiores produtores rurais de Mato Grosso do Sul, Fabrício alegou desconhecer que o clima estava tenso na região e por isso adentrou a área indígena com o intuito de fazer trilha de bicicleta.
Segundo ele, um grupo de índios que o obrigou a sentar no chão e gravar um vídeo sobre o que estava a ocorrer. Na ocasião, os indígenas diziam que só libertariam o refém com a presença da Polícia Federal.
A PF chegou a ser acionada, mas a Força Tática da Polícia Militar chegou antes e deu início à negociação para libertar o refém. Conforme a PM, depois de 45 minutos de diálogo com os índios, o refém foi libertado sem qualquer lesão. Os policiais disseram não ter conseguido identificar os responsáveis pelo cárcere privado porque havia muita gente no local.
Aliado a isso, o clima tenso na área impediu maiores providências, já que os índios, segundo a polícia, ameaçavam invadir a sede da Fazenda Cristal e fazer justiça com as próprias mãos em retaliação a falta de punições para quem baleou o índio Jonemar.
Ameaças
Na segunda-feira (14) o professor Levi Marques Pereira, antropólogo da Faculdade Intercultural Indígena da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), procurou o MPF (Ministério Público Federal) para denunciar ameaças que estaria a sofrer após ter seu nome “falsamente vinculado a estudos antropológicos de áreas em Dourados, no sul do estado, e divulgado junto a proprietários rurais e empresa de segurança contratada por estes”.
De acordo com o MPF, o professor relatou que “nos dias anteriores ‘um carro estranho’ havia rondado a sua casa e que também havia sido informado que ‘os proprietários rurais estavam muito bravos porque supunham que (ele) havia feito os estudos antropológicos referentes a área recentemente ocupada por indígenas’, na borda da reserva de Dourados, próxima ao anel rodoviário do município”.
Vítimas
Desde o mês passado, quando grupos de índios passaram a promover invasões de propriedades particulares na área urbana de Dourados, o clima tem ficado cada vez mais tenso. Depois da ocupação de lotes no Jardim Monte Carlo, uma moradora do Jardim Europa denunciou ter tido o carro atingido por estacas e pedras atiradas por indígenas.
Dias depois, produtores rurais denunciaram tentativa de invasão da Fazenda Cristal, localizada na divisa com a Reserva Indígena de Dourados. No dia 12 o índio Isael Reginaldo foi baleado e socorrido ao Hospital da Vida. Indígenas acusaram a atuação de pistoleiros, informação não confirmada pela polícia.