Herdeiro escocês luta para reformar castelo de 600 anos da família
Qualquer pessoa que já se desesperou durante uma reforma deveria pensar em sir Lachlan Hector Charles Maclean, de Duart e Morvern.
O lorde escocês está reformando sua casa desde que a herdou de seu pai em 1990, sem um fim à vista.
Sua casa não é comum. Trata-se de um castelo do século 14 (com calabouço) em ruínas, cujo teto ruiu e a água da chuva infiltra por suas paredes de cerca de 5 metros de espessura o tempo todo, até mesmo durante o verão, que pode ser excessivamente úmido e tempestuoso na Escócia.
O preço da reforma? Até o momento, 1,5 milhão de libras (cerca de R$ 6,3 milhões) e contando.
Localizado na Ilha de Mull, na costa oeste da Escócia, seu lar, o Castelo Duart, é a sede ancestral do clã Maclean, um dos mais antigos das Terras Altas escocesas. Os ancestrais do castelão de 74 anos estiveram envolvidos em séculos de batalhas entre católicos e protestantes, entre escoceses e ingleses, em rivalidades que persistem até hoje.
"O que fazer com uma propriedade como esta?" perguntou retoricamente Maclean, o 28º chefe do clã, em uma tarde recente enquanto bebia chá em sua sala de estar, provavelmente uma das partes aconchegantes do castelo onde ele e sua mulher, Rosie, se recolheram, apesar de ainda ser levemente úmido, com um leve cheiro de couro curtido velho.
As fortes chuvas batendo contra os vidros e o barulho constante das furadeiras o forçavam a levantar sua voz. A sala de estar dos Macleans é repleta de objetos e bibelôs modernos enquanto, abaixo, turistas transitavam pela imponente sala de banquete olhando para a parafernália do clã e tentando localizar um toalete. Há dois toaletes, mas ambos estão desativados: um construído há cerca de um século, outro há 600 anos.
Andrew Testa/The New York Times
"Muita gente não gostaria de viver aqui", disse Lachlan Maclean, antes de listar, como um corretor imobiliário extremamente franco, os problemas da propriedade. "É fria; nunca realmente fica quente. É ventosa e muito úmida, o que não é uma combinação muito boa. Algumas pessoas devem pensar: 'Que velho tolo em viver ali'."
Empoleirado em um penhasco escarpado de uma ilha pouco maior que a cidade de Nova York, o castelo foi, em vários momentos da história, invadido, atacado e demolido por clãs rivais leais aos reis escoceses ou por tropas combatendo em nome de Oliver Cromwell, o revolucionário antimonarquista.
A certa altura, prisioneiros espanhóis foram mantidos no calabouço do castelo, após uma tentativa fracassada de invadir a Inglaterra no século 16. O clã tinha terras nas ilhas de Mull, Coll, Tiree e Jura, todas ao longo da costa oeste da Escócia.
Mas nos tempos modernos, o Castelo Duart é atacado principalmente pelo impiedoso tempo ruim da Escócia.
Como cabe a um chefe de clã moderno, cujo título completo é sir Lachlan Hector Charles Maclean de Duart e Movern, 12º baronete, comandante da Ordem Real Vitoriana, vice-tenente e Oitavo Lorde Maclean (ele atende por sir Lachlan), sua principal função é defender o castelo da degradação e, mais importante, de ser esquecido.
Há 283 dias de chuva em média por ano na Ilha de Mull. Quando os ventos são particularmente fortes, ele disse, a única forma de sair do castelo, que é cercado por água por três lados, é rastejando de quatro pelos degraus da entrada principal.
O Duart, que significa ponto preto em gaélico, uma menção à rocha vulcânica preta sobre a qual foi construído, é um dos últimos castelos de clã restantes ainda de propriedade privada.
Mantê-lo é uma responsabilidade moral, disse Maclean. "É uma espécie de ponto focal para o clã", ele acrescentou, enquanto descia cuidadosamente a escadaria estreita projetada em 1360 para ser larga o suficiente apenas para permitir um homem empunhando uma espada. (Uma placa diz: "Pedimos desculpas por qualquer congestionamento nas escadas".)
O castelo recebe cerca de 25 mil visitantes por ano, alguns deles parte da diáspora Maclean que vive nos Estados Unidos, Canadá e Austrália. O nome Maclean pode ser soletrado de pelo menos 15 formas diferentes.
As pessoas estão cada vez mais à procura de sua herança e identidade, disse Lachlan Maclean, ao guiar alguns na visita ao Castelo Duart.
Em um mundo globalizado, "as pessoas estão menos certas a respeito de si mesmas", ele disse. "E querem encontrar um lar."
Ele se recordou de conhecer um visitante, um Maclean da Austrália, que tinha prometido à sua família em casa que visitaria o Castelo Duart. Enquanto o visitante partia, ele se virou para Lachlan e disse: "Obrigado por cuidar de nós". Uma mulher jovem da Flórida, outra Maclean, envia doações mensais de seu salário no supermercado.
Mas Lachlan Maclean teme que não conseguirá mais financiar os reparos no castelo depois de 2017.
Andrew Testa/The New York Times
Em 2013, quatro telhados ruíram quando água entrou pelas chaminés. A água também levou parte da argamassa entre as pedras das paredes do castelo.
Um ano antes, Maclean promoveu um congresso do clã, anunciando que a família não era mais capaz de financiar os reparos realizados no castelo ao longo do último século.
Os reparos são pagos em parte pela Escócia Histórica, uma agência do governo que cuida de monumentos importantes. Há a receita dos ingressos dos turistas, um pequeno café e uma loja na propriedade do castelo. Mas o trabalho realizado nos anos 90 por construtoras orientadas pelo governo escocês foi mal feito, disse Maclean, o que obrigou a uma nova série de reparos. As construtoras faliram logo depois.
Agora, as obras no castelo são cada vez mais dependentes de doações do público. "Eu realmente gostaria de refazer a coisa toda", ele disse. "Mas alguém seria capaz de levantar a quantidade necessária de dinheiro?"
O castelo foi fundado no século 14 e foi bem mantido até os anos 1600, quando os Macleans se alinharam com a Casa de Stuart, uma causa perdida, o que os deixou pobres e posteriormente sem terras.
Duart foi tomado e saqueado pelo clã rival Campbell em 1688 e serviu como guarnição de tropas do governo até 1751.
Os Macleans eram monarquistas que convocaram membros do clã que estavam na França para participar dos levantes jacobitas de 1715 e 1745 ao lado da família Stuart contra as forças do governo. Isso culminou na Batalha de Culloden de 1746, perto de Inverness, nas Terras Altas, quando os jacobitas foram derrotados e o pretendente Stuart ao trono, o príncipe Charlie, fugiu para o exílio.
Duart foi restaurado em 1911, quando o bisavô de Lachlan Maclean, sir Fitzroy Maclean, recomprou o castelo, que foi deixado em ruínas por 150 anos.
A animosidade do clã com os Campbells é profundamente enraizada, possivelmente fruto das disputas familiares, incluindo a tentativa fracassada pelo 11º chefe dos Macleans, Lachlan Cattanach, de assassinar sua mulher, Elizabeth, uma Campbell, por ela não conseguir lhe dar herdeiros.
Segundo a história do castelo, ela foi abandonada em uma rocha no mar além do Castelo Duart e deixada para se afogar quando a maré subisse. Ela foi resgatada por pescadores e devolvida à sua família, mas não antes de seu marido, achando que ela tinha morrido, ter oferecido suas condolências ao pai dela, o Conde de Argyll.
Em um desdobramento digno de telenovela, o conde convidou seu genro para um jantar no castelo Campbell onde, para surpresa do chefe Maclean, sua mulher foi encontrada sentada à mesa. Ele posteriormente se casou mais duas vezes, mas acabou sendo assassinado por um Campbell por volta de 1523.
Essa rivalidade há muito tempo é coisa do passado, apesar de Lachlan Maclean ter prometido nunca vestir um kilt com padrão Campbell.
Mas há um assunto maior e mais urgente no momento. "A Escócia não pode permitir que este prédio caia em ruínas, porque é importante demais para a história", ele disse.
Outra incerteza é se o filho mais velho de Maclean, Malcolm, 43 anos, se mudará para o castelo quando ele o herdar.
"Eu fui criado aqui. Eu adoro viver aqui", disse Lachlan Maclean pensativo. "É uma construção velha da qual gosto muito."