Pivô das investigações do Gaeco, ninguém diz o que Ronan fazia na prefeitura de Campo Grande

  • Do Povo Online

Após permanecer no cargo há um ano e 47 dias, o serviço institucional executado por Ronan Feitosa em nome da Prefeitura de Campo Grande não foi revelado até o momento.

Ele foi nomeado em 28 de janeiro de 2013 para cargo comissionado na vice-prefeitura, comandada à época por Gilmar Olarte (PP), de assessor especial III, na Secretaria de Governo e Relações Institucionais, mesmo respondendo, anteriormente, processo criminal por estelionato. Ronan recebia um salário de R$ 5.960, 80, o que soma R$ 83.451,20 pelos 14 meses de serviço. O cargo de Relações Institucionais permitia a Ronan falar com vereadores e pessoas com interesses na prefeitura.

Entretanto, sérios indícios apontam que Ronan seria funcionário fantasma. Isso porque, em um dos processos a que responde no TJ-MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), consta que um oficial de Justiça, ao ser atendido na vice-prefeitura por um por um assessor, foi informado que Ronan não comparecia ao trabalho até a presente data. O documento é de 6 de março de 2014 (veja reprodução acima).

O assessor foi exonerado por Olarte em 17 de março de 2014, após o surgimento de um áudio, no qual Ronan supostamente aparece negociando apoio por cargos na administração municipal e vultosas quantias em dinheiro, que seriam quitados após a futura cassação do então prefeito Alcides Bernal (PP), que ocorreu por ação dos vereadores da Câmara Municipal, com vínculos com gestões anteriores.

Cerca de um mês depois da demissão de Ronan - em 11 de abril de 2014 - um mandado de busca e apreensão foi executado pelo Gaeco (Grupo de Atuação de Combate ao Crime Organizado) na casa do prefeito Gilmar Olarte. Ao mesmo tempo, Ronan foi preso e passou cinco dias na carceragem da 77ª Delegacia de Polícia em São Paulo, por conta da mesma investigação.

Além deles, vereadores, o secretário municipal de Governo Rodrigo Pimentel, e outras pessoas ligadas a Igreja ADNA (Assembleia de Deus Nova Aliança) – onde Olarte e Ronan atuavam como pastores – também foram intimados para prestar depoimento na sede do Gaeco.

Irritado com os questionamentos sobre qual o crime estaria envolvido, o prefeito Gilmar Olarte acabou declarando, publicamente, que a investigação gira em torno de um estelionatário que agia em Campo Grande.

A declaração levanta uma série de suspeitas, principalmente pelo fato de que um fator fundamental não foi esclarecido até o momento, nem pelo ex-prefeito, ou pelo atual: qual era o serviço que Ronan realizava na prefeitura?

Bernal

A reportagem entrou em contato com o prefeito cassado, Alcides Bernal (PP) – que foi quem assinou a nomeação de Ronan para saber a função dele dentro da máquina administrativa. Questionado sobre o assunto, Bernal não soube precisar qual a atuação de Ronan, afirmando apenas que ele trabalhava sob o comando de Olarte.

“O Ronan era a pessoa com quem Olarte tinha uma relação muito íntima. Eles pertencem a mesma igreja, são amigos há décadas, viviam juntos. Então eu conheci esse rapaz através do Olarte. Eles viajam pelo interior do Estado, frequentavam chácaras juntos, pregavam palavra de Deus, cantavam em vários lugares. Quando nós assumimos, o Gilmar pediu pra que ele fosse nomeado, e durante o tempo que permaneceu na prefeitura trabalhou com o vice, lotado na vice-prefeitura sob comando do Olarte. Quem atestava a presença dele e sabia o que ele fazia era o vice. Ronan era assessor direto do Gilmar Olarte”, declarou.

Bernal informou que, mesmo sem ter sido notificado, vai se apresentar na sede do Gaeco para prestar informações na tarde desta sexta-feira (25). Ele garante que tem informações seguras que a investigação tem ligação com o processo de sua cassação. Recentemente, Bernal foi até a Polícia Federal pedir a abertura de 500 inquéritos contra a gestão de Nelsinho Trad (PMDB).

Olarte

Questionado sobre quais funções Ronan desempenhava na prefeitura, Olarte se recusou a falar, se restringindo a dizer que este assunto está sendo cuidado pela Justiça. Diante da insistência da reportagem do Dopovonline em saber se Ronam era assessor dele, Olarte se irritou.

“Este assunto já falamos várias vezes, não vamos ficar repetindo. Outra pergunta construtiva por favor”, disse Olarte se esquivando. Perguntado se ele acredita que o depoimento de Bernal ao Gaeco poderia prejudicá-lo, o prefeito disse apenas “eu não respondo sobre o Bernal. Só falo sobre questões construtivas da minha gestão”, encerrando a conversa.

Estelionato

Ronan foi indicado no inquérito policial 131/2011 pelo crime de estelionato, acusado de ter aplicado um golpe no dono da construtora VSV, Valdir de Souza Vieira. Ronan trabalhava para a empresa e se aproveitou de uma oportunidade na qual o dono precisou viajar, deixando com ele cheques e cartões.

Ele trocou os cheques com agiotas, deixou funcionários sem receber salários e sacou o dinheiro das contas do empresário, fugindo em seguida.

O processo nº 0029428-34.2011.8.12.0001 corre na 4ª Vara Criminal de Campo Grande desde 24 de maio de 2011. O mais curioso, no entanto, é que Ronan permaneceu no cargo mesmo a aprovação da Lei da Ficha Limpa, em 3 de setembro de 2013, a qual exige certidões negativas cíveis e criminais para nomeação de servidores em cargos público de confiança.