Muito além do nome: Afinal, o que faz de Mato Grosso do Sul único e diferente de vizinho ‘do Norte’?

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Após 47 anos da divisão do estado de Mato Grosso, que deu origem a Mato Grosso do Sul, ainda vemos não somente erros quanto à nomenclatura das unidades federativas, mas, sobretudo, confusão quanto à identidade de cada estado. Afinal, para além do nome, como se diferenciam cultura, economia e geografia entre os dois estados?

O estado de Mato Grosso deixou de ser um único território, sendo desmembrado em dois, no dia 11 de outubro de 1977. O fato histórico ficou marcado por movimentos políticos, sociais, econômicos e culturais.

Segundo a plataforma de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as discussões políticas sobre a divisão territorial passaram pelos governos dos presidentes Getúlio Vargas e, posteriormente, por Eurico Gaspar Dutra, que adotaria uma política de reintegração nacional que previa não a separação, mas a manutenção dos dois estados unidos.

Anos depois, o desmembramento aconteceria, mas decidido e realizado pelo então presidente Ernesto Geisel. Logo, Mato Grosso do Sul foi criado em 1977 e implantado em 1979. Entre 1979 e 1982, o novo estado foi governado por um interventor nomeado pelo presidente da república. Só após esse período é que ocorreram as primeiras eleições para governador.

Em seu discurso durante a assinatura da divisão do estado, o Presidente Ernesto Geisel afirmou:

Foi preocupação do meu governo abrir o caminho no sentido de uma melhor divisão territorial do país. Considero isso uma necessidade. Necessidade decorrente, em primeiro lugar, da disposição geográfica, decorrente também do desenvolvimento do país e sobretudo da ocupação, da utilização de novas áreas que até agora jazem apenas em estado potencial. Mas decorrente igualmente de uma necessidade de ordem política, tendo em vista um melhor equilíbrio da federação nos dias de amanhã. Mato Grosso do Sul com vocação extraordinária para o desenvolvimento agropecuário e agroindustrial e dos efeitos dinamizadores propiciados pela vizinhança com os estados do Paraná e de São Paulo.

Diferenças entre norte e sul já existiam antes da divisão

Segundo o historiador Eronildo Barbosa, o estado de Mato Grosso, que era gigantesco, já era marcado por diferenças no sul e no norte, começando pelo própria formação do povo em cada local.

“A primeira ocupação do norte de Mato Grosso aconteceu a partir de 1820 com a busca do ouro. Já o sul foi ocupado a partir da Guerra do Paraguai, a partir de 1865, quando as pessoas voltam da guerra e encontraram terras desertas, boas de água, terras boas para plantio. O sul começou com os municípios de Corumbá, Miranda, Coxim, Bela Vista e Camapuã, que já estavam se formando”, explicou o historiador.

Outro fator diferencial do sul aconteceu por volta de 1880, quando os gaúchos migram do Rio Grande do Sul para se instalar no sul de Mato Grosso.

“Eles ocuparam parte sul do Mato Grosso para a extração da erva-mate. Então, nesse período, vai se formando uma área independente no Mato Grosso. E a partir de 1840, vem uma leva para ocupar o Pantanal de portugueses que vêm para cá”, lembrou Eronildo.

Conforme explicado pelo historiador, o sul foi sendo tomado por uma leva de migrantes de várias regiões como São Paulo, Paraná, Nordeste, Rio Grande do Sul, Pará, Minas Gerais, bem como de outros continentes como Ásia, África, Europa, a maioria em busca dessa exploração de uma terra que era barata e fértil.

Logo, o sul do estado passou a se consolidar no sentido econômico, principalmente no que se refere à produção de alimentos e criação de gado. “O que garantiu a emancipação do sul foi o grande desenvolvimento econômico que essa área viveu”, pontuou o historiador.

Enquanto isso, o norte se tornava uma província que possuía várias jazidas de minerais não preciosos, algumas de extração viável. No intuito de maior aproveitamento dessa diversidade, o Governo Provincial autorizou, à época, a exploração das jazidas de ferro, cobre e manganês existentes nas minas junto ao rio Paraguai.

Vale destacar que o norte também tinha cultura de gado, algo que se consolida com o passar dos anos, mas havia muito mais a extração de minerais, madeira e pesca. “Eles tinham a Amazônia, que ali era a Grande Amazônia. O Cerrado estava majoritariamente lá também”, lembrou Eronildo.

Cultura e arte

Se Mato Grosso do Sul não era mais Mato Grosso, o que nos destacaria com relação à identidade cultural? Afinal, o norte tinha uma história cultural sólida e o sul ainda tinha algo a construir. Quanto a isso, vale lembrar que as diferenças do estado gigante iam além do fator econômico. Se o povoamento ocorreu de formas diferentes, consequentemente a cultura também se consolidou de formas distintas.

A música e a culinária são os principais componentes da ‘genética’ cultural de Mato Grosso do Sul. A identidade cultural do estado é moldada pela mistura de costumes e tradições, estando associada aos legados migratórios e imigratórios.

Logo, essa identidade é construída no sabor da gastronomia, nas produções musicais, no artesanato indígena, nas artes plásticas, nas festas populares e danças. As músicas, influenciadas pelas polcas, guarânias e o chamamé acompanham um cardápio plural e exótico na culinária que nasceu híbrida, com produtos e preparos portugueses, indígenas, africanos, asiáticos e hispânicos.

Em Mato Grosso do Sul é possível reunir, em um única mesa, o sobá da região central, o porco no rolete apreciado ao Norte, a sopa paraguaia comum no Sul, a linguiça típica do Sudoeste, o peixe à pantaneira assado na telha do lado oeste e o arroz com guariroba e frango ao molho pardo com quiabo e pimenta malagueta, além do arroz com pequi herdados dos vizinhos mineiros e goianos e muito apreciados na região Leste do Estado.

Divisão do estado na arte

Quanto ao estado de Mato Grosso, a cultura também tem influências variadas, porém mais de origem africana, portuguesa, espanhola, indígenas e chiquitana. Estas variações ganham expressão em danças, cantos e festivais folclóricos em diferentes localidades e regiões do estado.

O artista plástico Humberto Espíndola já realizou em Campo Grande a exposição “A Divisão do Estado”, com quadros pintados durante a emoção da divisão de Mato Grosso. “Não é história contada, é história vivida”, falou o artista em entrevista concedida anos atrás.

Oito telas fazem parte da história e da cultura sul-mato-grossense. Pintadas em 1978, elas revelam elementos nacionais e regionais, como o boi, que faz parte da Bovinocultura – estilo criado por Humberto.

Entras tais obras, está ‘O Sopro’, que retrata a implantação do “Novo Estado”, a partir da divisão de Mato Grosso ao meio. O sopro é o que dividiria o território e as águas do Pantanal.

A cultura também é arraigada pelos costumes indígenas. Com uma das maiores populações indígenas, Mato Grosso do Sul tem muitas produções de artesanato, algumas delas tombadas como patrimônios imateriais, como a Viola do Cocho, a cerâmica terena, o artesanato Kadiwéu e os Bugres de Conceição.

Geografia

Mato Grosso já era conhecido por sua imensidão, sendo este um dos motivos que deu origem à divisão territorial. Atualmente, ocupa o 3º lugar no ranking de maiores unidades federativas em extensão territorial, com  903.366,192 km², e 141 municípios. Enquanto isso, Mato Grosso do Sul não ficou muito atrás, ocupando o 6º lugar na lista, com uma área 357.145,532 km², dividida em 79 municípios.

Após a divisão, Mato Grosso continuou no Centro-Oeste brasileiro, sendo vizinho de estados como Amazonas, Pará, Tocantins, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rondônia e a Bolívia, país vizinho. Mato Grosso do Sul também ficou sendo um dos estados da região Centro-Oeste e faz divisa com Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná, bem como com os países do Paraguai e Bolívia.

Com relação às diferenças geográficas, o lado sul é formado pelo Planalto da Serra de Maracaju e pelas planícies da Vacaria e do Rio Paraguai, ambos excelentes para a pecuária. Já o lado norte é mais plano e próximo da Bacia Amazônica, justificando, inclusive, algumas diferenças no âmbito econômico.

Economia

Na economia, atualmente, os dois estados se destacam no agronegócio e pecuária, Mato Grosso, ao norte, já completou seus 276 anos, local povoado por aventureiros em busca de riquezas, incluindo pela produção de ouro. Com o decréscimo da produção do ouro, a população diminuiu e o estado voltou suas forças econômicos à agricultura.

Não por acaso, Mato Grosso é atualmente o maior produtor de soja do país, com seu território vasto e plano. O estado, é, também, um dois maiores produtores de milho e algodão. Além disso, MT não fica atrás na produção da pecuária, também tendo o maior rebanho bovino.

Enquanto isso, o sul baseou-se na pecuária extensiva e, hoje, e também se destaca no cenário nacional e internacional por meio do agronegócio. A produção de soja, milho, cana-de-açúcar, algodão e de bovinos resulta em elevado dinamismo para a economia do estado.

O território sul-mato-grossense localiza-se entre as duas bacias hidrográficas: a do Rio Paraguai e do Rio Paraná, e faz fronteira internacional com a Bolívia e Paraguai, proporcionando solo muito produtivo.

Com um rebanho bovino de 20 milhões de animais, uma área de pastagem de 16 milhões de ha, distribuídos em mais de 85 mil propriedades rurais, o estado conta ainda com 2,4 milhões de ha de área de soja, conforme divulgação do Governo do Estado.

Estado do Pantanal

Há anos, é considerada a mudança do nome do Estado para ‘Pantanal’. Em 2011, o ex-deputado estadual Antônio Carlos Arroyo se mostrou favorável a um plebiscito, durante uma sessão solene de início das atividades parlamentares. O deputado foi autor de um projeto de lei, que não chegou a ser submetido ao Plenário, não avançando.

Para se desprender ainda mais do ‘irmão’ Mato Grosso, em 2019, o governo de MS sancionou a projeto que troca o verbo “divisão” por “criação” do Estado. 

Em junho deste ano, o Projeto de Lei 160/2023, de autoria dos deputados Junior Mochi (MDB) e Gerson Claro, ainda em discussão, previa a instituição de “O Estado do Pantanal” em identificação visual do Governo do Estado do Mato Grosso do Sul e o logotipo dos órgãos do Poder Executivo Estadual.




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