Mato Grosso do Sul tem amplo potencial para transformação de biomassa em energia

Em Dourados, a equipe da Embrapa Agropecuária Oeste tem se dedicado a avaliar a viabilidade e o impacto do recolhimento total ou parcial da palha residual da colheita mecanizada de cana crua

  • Assessoria/Embrapa
Foto: Divulgação
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O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, com cerca de 641 milhões de toneladas processadas na safra 2017/2018. A Região Centro-Sul (que agrega os Estados das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste) responde por 90% deste volume, enquanto os 10% restantes cabem aos Estados da região Norte-Nordeste, de acordo com dados divulgados pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) demonstram que o Mato Grosso do Sul, ocupa a o 4º lugar em termos de produção de cana-de-açúcar, com uma colheita de 49,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2018.

De acordo com o Gerente de Meio Ambiente/Agrícola da Associação dos Produtores de Bioenergia do Mato Grosso do Sul (Biosul), Erico Paredes, na última safra a moagem de 47 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, deram origem a 11,8 milhões de toneladas de bagaço, sendo que praticamente todo esse material foi utilizado como combustível das caldeiras das usinas, produtoras de etanol e açúcar.

Energia limpa - “Essa enorme quantidade de bagaço oriundo do esmagamento da cana-de-açúcar para produção de álcool e açúcar, tem um amplo potencial produtivo para aumentar a produção de etanol, sem aumentar área de cultivo, por meio do etanol de segunda geração”, salienta Paredes. Ele destacou também a possibilidade do uso sustentável da celulose, oriunda do eucalipto, para geração de álcool.

No Brasil, 64% da energia é gerada por meio das hidroelétricas. Quando se pensa em fontes de energia renováveis, a cana-de-açúcar ocupa um lugar de destaque. Lenha e carvão vegetal, também são consideradas outras fontes importantes de biomassa. De maneira geral, em termos de bioeconomia existe muito potencial para o Brasil, que gera grande quantidade de resíduos ricos em biomassa energética, por se tratar de um país com ampla produção agropecuária.

Pesquisas agrícolas - Em outro elo da cadeia sucroenergética, com atividades de pesquisa voltadas para apoiar as empresas produtoras de cana-de-açúcar para as usinas alcooleiras, a Embrapa atua no desenvolvimento de sistemas de produção que possibilitem a intensificação da produção de biomassa, através do desenvolvimento de cultivares de sorgo-biomassa, capim-elefante e outras espécies com grande potencial de produção.

Em Dourados, a equipe da Embrapa Agropecuária Oeste tem se dedicado a avaliar a viabilidade e o impacto do recolhimento total ou parcial da palha residual da colheita mecanizada de cana crua, com o objetivo de cogeração de energia elétrica ou produção de etanol 2G. Práticas de preparo de solo, renovação, manejo e tratos culturais para a cultura da cana-de-açúcar, em sistemas conservacionistas de produção, são outros temas da atuação da Unidade que visam o aumento de produtividade de biomassa, maior eficiência no uso de insumos e sustentabilidade do setor sucroenergético.

Biomassa - O potencial produtivo das lavouras de cana-de-açúcar e eucalipto de Mato Grosso do Sul, aliado a inovações tecnológicas, são apenas alguns exemplos que permitem um leque de novas oportunidades para a produção de energia limpa renovável. “A pesquisa aplicada com foco no desenvolvimento de novos produtos, serviços e processos inovadores por meio da transformação da biomassa, pode agregar valor e gerar novas divisas para as indústrias brasileiras, tornando-as mais competitivas”, explica a pesquisadora do Instituto Senai de Inovação – ISI Biomassa, Jéssica C. Medina Gallardo.

Jéssica explica que o ISI Biomassa, localizado em Três Lagoas, dispõe de equipamentos de pesquisa, corpo técnico qualificado e de tecnologias que possibilitam a conversão da biomassa em energia. “Nosso trabalho é voltado para atender as necessidades da indústria brasileira e dispomos de linhas de pesquisa aplicada de transformação de biomassa”, explica a pesquisadora. “Essa transformação pode ser feita por meio de processos biológicos, com o uso da biotecnologia (por exemplo, digestão anaeróbica, fermentação e hidrólise enzimática), quanto por meio de processos químicos. “O processo químico, por sua vez, pode ser termo-conversão (combustão direta, gaseificação e pirólise) ou ainda químico (esterificação, transesterificação e Fischer-Tropsch).

“O uso residual da biomassa beneficia tanto as agroindústrias quanto a sociedade, pois o custo das matérias primas de alguns produtos, com o uso da tecnologia, poderá reduzir e os consumidores são beneficiados. O removedor de esmalte, por exemplo, utiliza como base o produto químico chamado acetona, obtido hoje por rota petroquímica, mas que também poderia ser produzido por meio de um processo biotecnológico, a partir da biomassa da palha. É disso que estamos falando. E, é incrível, pensar nos inúmeros produtos que podemos extrair da biomassa”, destacou Jéssica.

Seminário – O aproveitamento residual da biomassa de cana-de-açúcar foi um dos temas abordados no 2º Seminário Agrícola, do ano de 2018, intitulado “Tratos culturais de soqueiras”.  O seminário, realizado pela Associação dos Produtores de Bioenergia do Mato Grosso do Sul (Biosul), Embrapa Agropecuária Oeste e TCH Gestão Agrícola. “O uso de tecnologia para transformação da biomassa em energia limpa, contribui ainda com a redução das emissões de carbono, proporcionando inúmeros benefícios ambientais”, explicou o Chefe Adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agropecuária Oeste, Auro Akio Otsubo. Ele ressaltou a importância desse assunto na programação do Seminário e agradeceu a participação do ISI Biomassa. “A Embrapa destaca a relevância do Seminário, que já está seu quarto ano consecutivo de realização e que acontece na Unidade desde 2014 e que tem contribuído para aproximar as demandas do setor sucroalcooleiro com as atividades de pesquisa”, salientou.


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