Bife na chapa causou 90% de atendimentos em ala de queimados de hospital em MS

De acordo com a enfermeira RT (Responsável Técnica), Dra. Glacy Cardoso, do CTQ (Centro de Tratamentos de Queimados) da Santa Casa, somente este ano, de janeiro a maio, já foram realizados 120 atendimentos e o maior vilão dos acidentes é o bife na chapa, responsável por 90% dos casos. A profissional alerta para os riscos dessa prática que já se tornou uma cultura em Mato Grosso do Sul.

“Essa é uma cultura do nosso Estado, por ser mais prático que o churrasco, as pessoas pegam a aquela chapa, onde tem o suporte e dentro dele tem um local onde se coloca o álcool. E o acidente acontece no momento em que as pessoas reabastecem o suporte e muitos não se atentam ao risco e acabam se queimando pelo manuseio incorreto”, explicou Glacy Cardoso.

“Esse tipo de acidente, por ser explosão, na maioria das vezes, queima quem esta manuseando a chapa e pessoas que estão próximas, já houve casos onde até bebes de 28 dias se queimaram nesse tipo de acidente”, acrescentou.

De acordo com a responsável do CTQ, no caso de crianças o ferimento pode retroceder. Mas tudo depende do tipo de queimaduras, se for de 2º grau as marcas da queimadura provavelmente melhoram, agora as mais graves podem deixar sequelas na vítima.

Dra. Glacy ressaltou que há dois anos esse tipo de acidente, com o bife na chapa, ocorria em épocas festivas, como fim do ano ou com as festas do meio do ano. “Hoje o perfil do paciente mudou,  percebemos que essa sazonalidade já não é mais a mesma”, afirmou.

A enfermeira também apontou que o atendimento onde envolve queimaduras recorrentes ao bife na chapa aumentou. De janeiro a junho do ano passado foram 90 ocorrências desse tipo, já este ano, de janeiro a maio, o número foi para 120 atendimentos. “Mesmo com todo o alerta as pessoas não se importam e continuam com essa prática”, enfatizou.

Referência

A área do CTQ da Santa Casa, referência no atendimento de pacientes que sofrem queimaduras, possui 16 leitos, sendo 13 adultos e três infantis. Glacy lembrou que o hospital atende pessoas de toda a região Centro-oeste, inclusive dos países vizinhos como Bolívia e Paraguai.

“A maioria dos que se queimam, 95%, com o bife na chapa precisam fazer o procedimento de cirurgia plástica. Eles são internados com queimaduras de 2º e 3º grau grave e precisam seguir para o centro cirúrgico para fazer o desbridamento, que é a retirada do tecido necrótico para que o tecido [pele] se renove e se regenere e cicatrize”, explicou a chefe da CTQ.

Ainda de acordo com Glacy, pacientes com queimaduras de 2º grau ficam de 15 a 20 dias, já os que têm a de 3º chegam a ficar em tratamento por quatro meses.

Um trabalho doloroso a todos

A enfermeira assistente do CTQ, a Dra. Maria Aparecida da Silva Martins, relatou que a dor não é apenas do paciente, mas também da família que acompanha a vítima durante todo o tratamento.

“Esse tipo de atendimento é bem doloroso não só para o paciente, mas também à toda a família. Temos que atender o paciente e também seus familiares isso é um momento difícil e para isso temos uma equipe multiprofissional  com enfermeiros, técnicos de enfermagem, psicólogos, terapeuta ocupacional, assistente social e nutricionista”, afirmou.

“Nós fazemos atendimento assistencial todos os dias na parte do curativo psicológico e todo o apoio que o paciente necessitar”, completou.

A enfermeira assistente explica sobre o banho, segundo ela a equipe responsável pelo procedimento lava o ferimento e faz toda a limpeza na balneoterapia, momento em que o paciente fica todo despido. Nesse momento a equipe da fisioterapia também atua e consegue atender o queimado. “Nós fazemos a analgesia com a morfina, e assim proceder na limpeza da queimadura, explicou”

Ainda de acordo com a assistente, a escovação da área queimada é feita com uma bucha que possui clorexidina dergemante, ou seja, um sabão antisséptico. Em seguida é aplicada a pomada para a hidratação da região afetada. O banho acontece uma vez ao dia durante todo o tratamento para retirada da pele morta. .

Humanização da enfermagem

O paciente, Alan Victor dos Santos, de 28 anos, morador de Campo Grande, é mais uma vítima do bife na chapa. Ele sofreu graves queimaduras no  mês passado enquanto se divertia com os amigos em sua casa. “Eu tinha colocado álcool no suporte, em certo momento eu achei que o álcool tinha acabado. No reabastecimento eu coloquei o combustível sem resfriar o local, sem a devida verificação”, lembrou.

“Nesse momento que aconteceu a explosão, me queimou todo o rosto e os braços, e um amigo meu também se queimou. Mas agora aqui [na Santa Casa],em tratamento, fico mais tranquilo, a equipe de enfermagem é bem atenciosa estou no melhor lugar, aprovo os profissionais”, elogiou Alan.

A esposa de Alan, Elizangela da Silva, 28 anos, contou que o dia do acidente foi bem assustador. Ela já havia alertado seu marido sobre o risco da chapa. “Ele [Alan] veio gritando pegando fogo em todo o seu rosto”, relatou.

Elisangela disse que sabia do perigo, mas nunca se deparou com um acidente desse tipo. “Eu acho que deveria ser proibido fazer bife assim, a cena do meu marido em chamas é horrível”, disse.

Em relação ao atendimento da enfermagem, a esposa de Victor elogiou o trabalho de toda a equipe, segundo a mulher todos são atenciosos e entendem a dor dos pacientes.