Tribuna livre: Sindicato destaca que jornalista precisa retomar a perspectiva de classe (veja vídeo)
Diretor do Sinjorgran encerrou discurso destacando que abrir mão de um jornalismo de qualidade no Brasil é abrir mão da democracia
Na noite de ontem (08), o tesoureiro do Sindicato dos Jornalistas Profissionais na Região da Grande Dourados – Sinjorgran e membro da diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ, Luis Carlos Luciano, usou a tribuna livre da Câmara Municipal de Dourados para falar sobre a luta da categoria pela valorização do trabalho dos jornalistas brasileiros.
Em seu discurso, Luis Carlos lembrou a atuação da entidade, que representa a classe laboral e não os empregadores e seus pseudo-seguidores que tratam o jornalismo como um negócio meramente econômico e não se engajam na luta democrática e nos verdadeiros temas reformistas de interesse da coletividade.
Luis Carlos falou sobre o profissional sofrido, estressado, subtraído de sua convivência familiar por conta de jornadas injustas de trabalho e que sofre com a concentração do capital. Destacou a precarização no ambiente de trabalho, que vive “embotando nossos sonhos”, e do capitalismo selvagem que suga as forças do profissional, devolvendo-o a dúvida e a esperança enfraquecida.
“Quanto mais mão-de-obra despreparada, desqualificada e submissa mais se abre caminho para o pseudojornalismo ou para a completa falta de jornalismo, ambiente para oportunistas e chantagistas. Não representamos essas pessoas”, afirmou Luis Carlos.
O membro do Sinjorgran enfatizou que o jornalista precisa retomar a perspectiva de classe, se organizar como categoria, lembrando que a desqualificação é uma armadilha do capital para que haja o enfraquecimento como trabalhadores organizados. “Nós, jornalistas, precisamos ter sempre em mente o nosso compromisso em busca da verdade. Esse é o compromisso que temos com a sociedade. Juntos, venceremos. Divididos cairemos”, alertou o diretor.
Uma das lutas dos sindicatos dos jornalistas de todo o país e da FENAJ já tramita na Câmara Federal, o Projeto de Lei 2.960/2011, de autoria do deputado federal André Moura (PSC/SE), que institui o piso salarial nacional dos jornalistas brasileiros em seis salários mínimos.
Segundo Luis Carlos, o jornalismo requer de quem o exerce, o registro profissional, o cumprimento do Código de Ética e da legislação específica, jornada de trabalho diferenciada de 30h, a negociação entre Sindicato e empresas para firmar os Acordos Coletivos de Trabalho, a utilização da tabela de valores de referência para os serviços avulsos (freelance) e a aplicação das novas diretrizes curriculares para estágio de estudantes de Jornalismo.
“Tudo isso continua vigente enquanto outros projetos buscam tornar a formação superior em Jornalismo como requisito para exercício da profissão e a criar o Conselho Federal de Jornalismo”, ressaltou.
A banalização
A decisão do Supremo Tribunal Federal de acabar com a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão teve repercussão avassaladora no âmbito local e regional, a ponto do único curso de jornalismo que existia em Dourados ter acabado por falta de estudantes. Luis Carlos explicou que isso fragilizou quem estuda, quem frequenta faculdade, gasta horas e horas em estudos e pesquisas e investe dinheiro para a formação, sendo que o diploma não é obrigatório. “Mas é curioso e paradoxal, já que na hora de pleitear uma vaga de trabalho para jornalista quem tem diploma leva vantagem”, disse Luis Carlos.
Luis Carlos também levantou as dificuldades do fazer jornalismo, como se o exercício da profissão fosse uma atividade fácil, como se escrever textos fosse um ato simples, como se a gramática aprendesse num piscar de olhos, como se as técnicas do jornalismo fossem aprendidas num segundo piscar de olhos e como entender os mecanismos e as regras da sociedade e do Estado de direito fosse um caminho suave.
“Há cada vez mais necessidade de profissionais qualificados no jornalismo, ela é indispensável e imprescindível. Os leitores querem uma fonte na qual possam confiar e uma mídia que não seja apenas um negócio financeiro. E, quanto maior o bombardeio de informações, mais a necessidade de jornalistas que se pautarem pela qualidade e credibilidade na informação”.
Luis Carlos encerrou destacando que o Sinjorgran, seus membros, os jornalistas brasileiros engajados na valorização da profissão continuarão lutando em defesa do jornalismo ético, valorizado e de qualidade, pois não há como assegurar o direito de todos à informação, a defesa da liberdade de expressão e de imprensa, dos direitos humanos e da democracia sem a devida valorização do jornalista enquanto profissional.
“Sabemos da importância do nosso trabalho e das empresas de comunicação comprometidas com a verdade. Encaramos desafios de toda a ordem, sejam no ambiente de trabalho como no exercício da atividade, porque temos uma consciência que nos cobra, graças a Deus, a sonhar e não apenas sonhar, mas almejar uma sociedade melhor para todos nós. Enfrentamos com destemor as crises de identidade e ajudamos a estabelecer a mediação e a credibilidade. E o jornalismo é ferramenta que equilibra a comunicação para o trabalhador e está enraizado no processo democrático em defesa da população. Abrir mão de um jornalismo de qualidade é abrir mão da democracia”.
As atividades
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais na Região da Grande Dourados (Sinjorgran) tem jurisdição em 25 municípios da região sul de Mato Grosso do Sul e é um dos quatro sindicatos regionais do País.
O uso da tribuna livre na Câmara Municipal de Dourados integrou uma das atividades da programação da entidade em comemoração ao Dia do Jornalista, 7 de abril. Durante esta semana, o Sindicato desenvolve a campanha ‘Jornalista valorizado, informação para valer”, com veiculação em outdoors e faixas instaladas em pontos da cidade, impressão de cartazes e flyers. Ainda haverá visitas às redações, entrevistas nas rádios locais e o encerramento da semana com um almoço de confraternização da categoria no sábado (12.04), às 12h, na Aduf/Dourados (Rua Passo Fundo, 290, bairro Jardim Universitário).
Veja pronunciamento na íntegra: