Denúncia de mala ‘recheada’ com propina na Câmara de Dourados motivou ação
Visitante cheio de dinheiro do Palácio Jaguaribe citado em depoimento da Operação Cifra Negra seria dono de empresa beneficiada com contratos milionários
Desencadeada no dia 5 de dezembro para combater fraudes em processos licitatórios na Câmara de Dourados, a Operação Cifra Negra teve, entre suas motivações, o depoimento de um servidor que relatou visitas de empresário com mala “recheada” de dinheiro ao Palácio Jaguaribe, sede do Legislativo Municipal. O visitante em questão, dono de empresa beneficiada com contratos milionários, levaria propina de R$ 20 mil para cada vereador envolvido no esquema.
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Expostos pelo juiz Luiz Alberto de Moura Filho na decisão proferida no dia anterior para determinar as prisões preventivas dos parlamentares Idenor Machado (PSDB), Pastor Cirilo Ramão (MDB), e Pedro Pepa (DEM), além do suplente e ex-vereador Dirceu Longhi (PT), esses foram detalhes apurados pela 94FM das investigações encampadas pela Polícia Civil e pelo MPE-MS (Ministério Público Estadual).
Titular da 1ª Vara Criminal de Dourados, o magistrado mencionou depoimento prestado pela então vereadora Virgínia Marta Magrini à 16º Promotoria de Justiça da comarca no dia 25 de março de 2014, ocasião em que ela relatou que os investigados Idenor Machado e Dirceu Aparecido Longhi recebiam propina das empresas Quality e KMD, por intermédio de Alexsandro Oliveira de Souza, à época diretor da Câmara de Dourados e acusado de receber depósitos superiores a R$ 53 mil dos empresários.
A ex-parlamentar detalhou aos investigadores que Alexsandro chegou a viajar para Campo Grande acompanhado de um motorista da Casa de Leis para, na sede da empresa Quality, receber valores em propina a serem entregues para Idenor Machado.
Ainda neste depoimento, ela citou que Denis da Maia, proprietário da Quality, empresa que teria centralizado todo o esquema fraudulento, esteve presente nas dependências da Câmara no período matutino portando uma mala "recheada" de dinheiro e iria se reunir com Idenor Machado e o Diretor Financeiro do Legislativo.
Em outra ocasião, no dia 25 de setembro de 2015, Virgínia voltou ao MPE e acrescentou que as propinas eram pagas mensalmente a Idenor Machado, Dirceu Longhi, Cirilo Ramão Ruis Cardoso e Pedro Alves de Lima, perfazendo as quantias de R$ 20.000, a R$ 23.000,00.
Conforme narrado pelo juiz, posteriormente, como parte dos planos de manutenção de poder de Idenor Machado, os vereadores Idenor, Dirceu, Cirilo e Pedro resolveram modificar os titulares para o recebimento da propina e a partir de 2015 as quantias passaram a ser entregues para Cirilo e Pedro.
Ex-servidor da Câmara de Dourados, Rodrigo Ribas Terra também é citado na decisão judicial que expediu os mandados de prisão preventiva e busca e apreensão da Operação Cifra Negra. No caso dele, consta depoimento relatando que Denis da Maia, proprietário da Quality, repassava mensalmente o valor de R$ 20.000,00 para Idenor Machado a título de propina. Ele enfatizou que Alexsandro supostamente desviou um mês de propina, razão pela qual o Cirilo Ramão Ruis Cardoso passou a recebê-la e exigir parte dos valores.
Quanto às denunciadas visitas de Denis da Maia à Câmara de Dourados e do diretor da Casa de Leis à empresa dele, o magistrado mencionou que o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) registrou essas ocasiões.