Medicamento para crianças com leucemia será distribuído pelo SUS
A barriga cada vez mais inchada, a falta de apetite e a palidez da filha Isabele, de dois anos, levaram Naiara Cardoso a procurar três hospitais diferentes. Os primeiros médicos disseram que os sintomas indicavam dor de garganta ou gases. Somente o último deles acertou o diagnóstico: a menina tinha leucemia linfóide aguda, o tipo mais comum em crianças. Logo, ela foi encaminhada para a oncologia pediátrica do Hospital Santa Marcelina, em São Paulo, e começou o tratamento com remédios como o L-Asparaginase.
Esse medicamento, que é essencial para a cura da doença, será produzido no Brasil a partir de 2015 por meio de uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP). Até o fim do ano passado, o remédio era comprado pelos serviços do Sistema único de Saúde (SUS) habilitados em oncologia. Porém, nessa época, a empresa brasileira que o distribuía informou ao governo federal que o produtor estrangeiro havia interrompido a fabricação e que os estoques durariam somente até meados deste ano.
Para evitar esse cenário, o Ministério da Saúde investiu R$ 17,6 milhões na compra de 52,3 mil frascos, quantidade suficiente para suprir toda a demanda nacional (mais de três mil crianças) por um ano. A ação, feita em parceria com a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE), permitiu que Naiara pudesse ficar tranquila em relação às doses do remédio usado na recuperação de Isabele. “Falaram pra mim que talvez faltasse, porque esse remédio ficou um tempo fora do mercado e estava voltando agora, mas não houve problemas e agora ela está curada, comendo bem. Já está gordinha de novo”, conta.
A doença foi diagnosticada em junho de 2013 e afetou muito a família. “Eu não trabalhava e o meu marido, que é vendedor, ficou muito mal depois de receber a notícia. Ele ficava muito perturbado, não conseguia se concentrar em nada. Aí, acabou saindo do trabalho”. Atualmente, Isabele continua o tratamento, que dura em média dois anos e meio, e já tomou oito injeções do L-Asparaginase.
Segundo a mãe, a quimioterapia praticamente não causou efeitos colaterais. “Ela está carequinha. Mas o médico falou que esse efeito é bom, porque significa que o organismo está aceitando bem os remédios”. A irmã Gabriele, de quatro anos, também ajuda na recuperação. “Ela pega uma boneca careca e diz ‘olha, ela cortou o cabelo igual ao seu, tá linda igual a você’. E se a Isabele diz que a perna está doendo, a Gabriele vai lá e faz massagem. Ela é 100% atenciosa”.
Leucemia
De acordo com informações do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a leucemia é uma doença que afeta os glóbulos brancos (leucócitos). A principal característica é o acúmulo de células jovens anormais na medula óssea (a “fábrica do sangue”), que substituem as células sanguíneas normais.
Em geral, os sintomas da leucemia decorrem do acúmulo dessas células na medula óssea, prejudicando ou impedindo a produção dos glóbulos vermelhos (causando anemia), dos glóbulos brancos (causando infecções) e das plaquetas (causando hemorragias). Depois de instalada, a leucemia progride rapidamente, exigindo que o tratamento seja iniciado logo após o diagnóstico.