‘Me sinto um lixo’, diz assassino confesso que esquartejou a própria tia

Guilherme Lozano Oliveira, que já é condenado por outro crime, disse: ‘bebi e vim a fazer o que eu fiz’.

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‘Me sinto um lixo’, diz assassino confesso que esquartejou a própria tia

O homem que confessou ter esquartejado a própria tia, em São Paulo, fica frente a frente com o repórter Valmir Salaro. Ele diz que agiu por desespero, e que está arrependido. Você vai ver que esse homem, capaz de cometer tamanha barbaridade, já tinha se envolvido com violência e até mesmo com nazismo. Um metro e noventa de altura, 115 quilos e muitas tatuagens. Uma delas é a de um fuzil, feita na adolescência.

Fantástico: Você sempre foi um homem violento?
Guilherme Lozano Oliveira: Não. Eu não sou uma pessoa violenta.

Guilherme Lozano Oliveira, 22 anos, matou e esquartejou a tia, que tinha o dobro da idade dele. Depois, guardou partes do corpo na geladeira do apartamento onde moravam, na Vila Medeiros, em São Paulo.

Fantástico: Quando você decidiu fazer o esquartejamento?
Guilherme Lozano Oliveira: Depois que eu já estava bem alcoolizado.
Fantástico: Você bebeu o quê?
Guilherme Lozano Oliveira: Uísque.

Na adolescência, explodiu a rebeldia. E veio o apelido, "treze", que é usado para se referir a pessoas sem equilíbrio emocional. "Eu comecei a andar com os punks, depois com skinhead. Porque eu fui tentar me encontrar na rua, coisa que eu não conseguia fazer em casa", diz Guilherme.

Os skinheads, ou carecas, com quem Guilherme andava defendiam o nazismo e o racismo. O Fantástico teve acesso aos boletins de ocorrência em que ele é citado. Aos 16 anos, ele foi acusado de pichar, em um trem, uma suástica, o símbolo do nazismo. Em fevereiro de 2011, quando tinha 18, se envolveu em uma briga com punks e quase foi linchado. Dois meses depois, ele e um amigo foram detidos com três barras de ferro e uma faca.

Guilherme Lozano Oliveira: Eu era nacionalista. Sempre gostei desse lado militarismo, nacionalismo.
Fantástico: Você se considerava um seguidor do nazismo?
Guilherme Lozano Oliveira: Não. Nazismo não.
Fantástico: Você tinha raiva de negros, homossexuais?
Guilherme Lozano Oliveira: Não, jamais.

Setembro de 2011. Punks e skinheads brigam na porta de uma casa de shows, em São Paulo. Johni Raoni Galanciak é morto a facadas. Nessa época, Guilherme ficou oito meses preso, acusado de ser o assassino. Saiu da cadeia porque a Justiça decidiu que ele podia aguardar o julgamento em liberdade.

“Pedimos pra que fosse revogada a liberdade dele. Sabíamos que ele era uma pessoa que não tinha condições de convívio em sociedade”, diz Mildred Rocha, promotora de Justiça.

A Justiça não entendeu assim e ele ficou solto até ser julgado, em novembro do ano passado. Guilherme acabou condenado a 15 anos, mas não foi para a prisão. A Justiça determinou: ele pode recorrer em liberdade.

Guilherme Lozano Oliveira: Não fui eu que matei o punk.
Fantástico: Você tem como provar que você é inocente?
Guilherme Lozano Oliveira: Tenho.
Fantástico: Como?
Guilherme Lozano Oliveira: Eu prefiro não dizer aqui.
Fantástico: E quem cometeu esse crime?
Guilherme Lozano Oliveira: Foram algumas pessoas que eu prefiro não citar nomes.

Depois da morte de Johni, Guilherme diz que arrumou trabalho como segurança e que parou de andar com skinheads. “Eu ia acabar sendo assassinado ou ia voltar para a cadeia”, diz Guilherme Lozano Oliveira.

Mas, no carro de Guilherme, há um adesivo com uma cruz. Segundo a polícia, a cruz é um símbolo usado por grupos neonazistas para representar a suástica. Isso seria um disfarce já que fazer apologia ao nazismo é crime. A polícia afirma que ele faz parte até hoje de um grupo skinhead. Lutador de boxe e jiu-jitsu, Guilherme tinha poucos amigos.

Longe dos pais e dos cinco irmãos, foi acolhido pela tia Kelly Cristina Oliveira, uma ex-professora de 44 anos. Formada em artes cênicas, ela vivia com a pensão do pai falecido, o avô de Guilherme. “Saíamos, almoçava fora, teatro, cinema, sempre foi uma relação amigável”, conta Guilherme Lozano Oliveira.

A relação de Guilherme com a tia não era tão tranquila como ele afirma na entrevista. Os dois moravam em um prédio, na Zona Norte de São Paulo, há seis meses. Os vizinhos contam que eles brigavam muito. Até que um dia, cerca de dois meses atrás....

“Ela sofria de bipolaridade. Tinha uma mudança de humor muito repentina. A gente começou uma discussão. Ela veio com a intenção de uma agressão e para tentar conte-la, eu dei um golpe de jiu-jitsu nela, chamado ‘mata leão’, para tentar acalmá-la, na intenção de desmaiá-la mas...”, conta Guilherme Lozano Oliveira.

A tia Kelly estava morta.

Guilherme Lozano Oliveira: Foi um acidente porque eu fui contê-la, aconteceu.
Fantástico: E quanto ao esquartejamento?
Guilherme Lozano Oliveira: Eu entrei em desespero. Como eu já tinha um processo passado, já tinha uma condenação, pensei muito na minha filha. Eu fiquei com medo de voltar pra cadeia.
Guilherme tem uma filha de dois anos, mas não está com a mãe da criança. Ele namora outra mulher.

O corpo na geladeira só foi descoberto porque o pai de Guilherme, irmão da vítima, desconfiou do desaparecimento dela e entrou no apartamento. Era quarta-feira (5). “Manter um corpo na geladeira dentro de casa é sinal de requinte de crueldade e frieza”, diz o delegado Milton Gomes de Oliveira.

Guilherme fugiu de carro e foi preso depois de bater em um poste. A polícia diz que até agora ninguém confirmou a versão de que a tia dele tinha doença mental. “Era uma pessoa de temperamento difícil, mas não denotava nenhuma coisa fora do comum”, diz o delegado Milton Gomes de Oliveira.

A polícia investiga qual seria o verdadeiro motivo do crime. O assassino confesso da tia deve passar pelo menos os próximos 15 anos na prisão.

Guilherme Lozano Oliveira: Eu quero pagar pelo que eu fiz e sair uma outra pessoa.
Fantástico: Como é que você se sente hoje?
Guilherme Lozano Oliveira: Me sinto hoje, sinceramente, depois de tudo isso, me sinto um lixo.

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