Jornal mais antigo da América Latina demite 130 funcionários em Pernambuco

Com a entrada do novo presidente do grupo, o Diário de PE sofreu com as demissões de uma só vez

  • Karina Veríssimo
Jornal mais antigo da América Latina demite 130 funcionários em Pernambuco

Sob o argumento de uma suposta reestruturação, o novo grupo que assumiu o Diário de Pernambuco, o jornal mais antigo em circulação na América Latina, promoveu uma vassourada no seu quadro de pessoal, atingindo, de uma só tacada, 100 funcionários, a maioria da área administrativa, que deve ser transferida do Recife para Fortaleza, sede do Hap Vida, acionista majoritário.

Da redação de jornalismo, foram demitidos em torno de 30 profissionais, dos quais muitos nomes são conhecidos no mercado nacional. A enxurrada de demissões ocorreu na última terça-feira (24), mais de 30 jornalistas das equipes dos jornais Diario de Pernambuco e AquiPE, do mesmo grupo, e cerca de 100 profissionais de outras áreas foram demitidos. Nesse grupo estão editores, repórteres, diagramadores, ilustradores e fotógrafos — um deles com 40 anos de casa.

Os cortes foram feitos pelo Grupo Opinião de Comunicação (GOC), controlado pelo Canadá Investimentos, proprietário da Hapvida, nova holding das publicações. Em janeiro desse ano, a empresa adquiriu 57,5% da participação societária nas empresas de comunicação do Grupo Diários Associados.

 

Nesta quarta-feira (25/03), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Pernambuco (Sinjope) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgaram uma nota de repúdio à ação da empresa. O texto diz que com as demissões, o grupo compromete a credibilidade dos veículos que controla.

"O GOC, ao anunciar oficialmente a sua missão, dizia “defender a ética, a verdade e justiça social”. As ações vão contra o discurso publicado e apontam para a destruição de uma empresa 189 anos e que já é parte do patrimônio da Comunicação de Pernambuco", afirma a nota.

Para as entidades, não houve "critério compreensível" nos cortes, que atingiu pessoas que não poderiam ser demitidas e deixou equipes sem chefias — a exemplo da fotografia. As entidades convocaram uma reunião com a diretoria da empresa e com o Ministério Público do Trabalho (MPT). "Sinjope e Fenaj alertam ainda que não serão aceitas sobrecarga de trabalho com excesso de jornada aos profissionais remanescentes e a ocupação das vagas dos demitidos por estagiários".

À IMPRENSA, Cláudia Eloi, repórter de política e presidente do Sinjope, manifestou preocupação com os colegas demitidos e com o futuro do jornal. "Viramos somente números. Parece que não somos profissionais, seres humanos. Quantos fins de semana perdemos, quantas vezes deixamos nossos filhos em casa para trabalhar? Nossa experiencia foi jogada no lixo". 

Segundo ela, há rumores de que mais trabalhadores devem ser afastados. "Não sabemos como será daqui para frente. Se antes tinha 50 para fazer o jornal, agora tem 20. Como essa conta fecha? E a gente não faz só impresso, faz foto, vídeo, áudio, redes sociais... Como uma colega batizou, é multifunção e monossalário. Um patrimônio de Pernambuco de 189 anos está sendo destruído, dizimado", lamenta.

Os jornalistas de Pernambuco, indignados com a conduta do grupo de mídia, têm usado as redes sociais para denunciar o corte em massa e mobilizar a categoria para tentar reverter a situação.

 

Fontes: Diário de Pernambuco / Blog do Magno

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